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- Aventure-se: 10 anos de Aventura de Construir
Quando pensamos em 10 anos, o que isso significa? São apenas dias, meses e anos que se passaram, mais depressa do que deveriam? Nos vem a comparação com a vida de uma criança. Para os adultos, surge a sensação de que apenas ontem haviam sido dado os primeiros passos e ditas as primeiras palavras. Por outro lado, para a criança, ou mesmo para quem está ao seu lado no dia a dia, foram dias de aprendizado, meses de novas experiências e anos de mudanças. Cada momento com a sua riqueza, com a sua singularidade e com uma Aventura diferente. No dia 24 de agosto de 2021, comemoramos 10 anos da Aventura de Construir. Há uma década, seguimos trabalhando, construindo, apoiando os empreendedores da periferia e acreditando no protagonismo de cada pessoa, pois essa é a essência do nosso trabalho! Nos dedicamos à realização e à transformação de cada um que encontramos nesta jornada, ao ponto de influenciar o seu redor, com esperança e persistência. Agradecemos a todos que estiveram ao nosso lado ao longo desses 10 anos, os que acompanharam nossos primeiros passos e as nossas primeiras falas. Sem vocês, nada disso seria possível! Para marcar essa data tão especial, lançamos este vídeo comemorativo. Assista e comemore conosco. Parabéns para todos nós! #AdC10anos #Empreendedorismo #ONG
- ESG: Como a implementação de práticas sustentáveis contribuem com a manutenção dos negócios?
Continuando com a publicação de textos de alunos da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, a FECAP, o Blog AdC de hoje traz o texto de Ramon Maciel, sobre ESG (sigla referente à melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio). A parceria da Aventura de Construir com a instituição tem como objetivo conectar estudantes do primeiro semestre de Administração com pautas do empreendedorismo social. A entrevista que realizamos sobre o projeto pode ser acessada neste link. Confira abaixo o texto desta semana! Um conceito cada vez mais comentado no universo organizacional é o ESG (Environmental, Social e Governance) que visa à implementação de melhores práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, representando um direcionamento na atuação sustentável de uma empresa, de forma a impactar a sociedade como um todo. Em princípio, os pilares sustentáveis, ou triple bottom line, foram os primeiros indicadores de desempenho em relação às práticas de impacto nas empresas. O modelo observa o equilíbrio entre as esferas ambientais, sociais e econômicas frente ao resultado da operação, auxiliando na análise de iniciativas e promovendo um comprometimento com uma atuação responsável. https://revistaconstrua.com.br/noticias/engenharia/eficiencia-energetica-a-busca-por-equilibrar-o-consumo-de-energias/ Dessa forma, os pilares sustentáveis propõem, em um primeiro momento, um modelo socialmente justo, ambientalmente responsável e financeiramente viável de atividade para as empresas. A partir dessa concepção, o ESG vem como resultado direto da atualização desse primeiro conceito, no qual expande-se a complexibilidade de ideias acerca do tema face ao debate de gestão sustentável e potenciais de longevidade dos negócios por meio da criação de valor. As dimensões ESG são indissociáveis, visto que o conjunto tem como objetivo prático transformar e proteger o meio ambiente, a sociedade e os próprios negócios, por meio de estratégias de longo prazo que eliminem ou mitiguem o impacto negativo das empresas no ecossistema em que elas estão inseridas. Com isso, o foco concentra-se na durabilidade e sobrevivência dos negócios e dos mercados frente às transformações tecnológicas, novos contextos sociais, incertezas, riscos e desafios de crescimento. Na contemporaneidade, as empresas não existem com o exclusivo propósito de gerar retorno financeiro para a operação e sócios, mas devem contemplar toda a esfera de “partes interessadas do negócio” dentro da esfera ESG, conhecida como stakeholders, dessa maneira as iniciativas visam criar valor ao seu ecossistema, de forma a apoiar todos os agentes participantes da cadeia. https://www.tramaweb.com.br/solucoes/relacionamento-com-stakeholders/ Desse modo, cada uma das letras simboliza um critério de impacto relevante para cada pessoa vinculada, diretamente ou indiretamente, a entidade, sendo elas: AMBIENTAL A esfera ambiental apresenta iniciativas dedicadas às atividades organizacionais em relação ao meio ambiente no longo prazo, assim situando o negócio em seu espaço de atuação e evidenciando seus impactos na natureza. Para exemplificar, podemos citar como iniciativas de combate a ameaças ambientais: Estar em concordância com a legislação e regulamentações ambientais; Garantir a possibilidade de reciclagem dos produtos fabricados; Estudar se a fabricação de produtos é eficiente frente ao menor consumo de matéria-prima; Estar consumindo energia e água de forma consciente etc. SOCIAL A esfera social foca nas relações interpessoais de uma organização no longo prazo, sejam elas com clientes, colaboradores, fornecedores, investidores, comunidade e a sociedade em que está inserida. Para exemplificar, podemos citar como iniciativas de cunho social: Treinar funcionários; Garantir entregas de qualidade aos clientes; Estabelecer uma linha de comunicação com os fornecedores; Incluir políticas de diversidade e inclusão no quadro de funcionários etc. GOVERNANÇA A esfera de governança corporativa trata de temas gerenciais dentro da entidade, em que são evidenciados a transparência, a ética e a responsabilidade como base para o engajamento no longo prazo. Para exemplificar, podemos citar como iniciativas gerenciais: Criar medidas preventivas a fraudes e corrupção; Garantir os direitos humanos e trabalhistas; Estabelecer um código de ética e conduta; Construir um organograma e organizar a comunicação interna etc. O movimento acerca do debate do valor agregado com a execução de iniciativas ESG não é uma obrigação legal, contudo não deixa de ser uma pauta de extrema importância no momento atual, visto que uma melhor gestão e implementação de iniciativas proporciona um caminho de impacto positivo e gera valor que transcende as portas da organização, contribuindo com o crescimento e desenvolvimento do negócio, ofertando mais oportunidade à comunidade e garantindo recursos básicos para a sobrevivência das próximas gerações. Em virtude da amplitude do espectro ESG e as diferentes iniciativas para começar a implementar diferentes temas em uma organização, é importante ressaltar que o investimento do negócio é pautado pelo valor que ele oferece ao mercado por meio de sua atuação, visto que o perfil dos investidores tem um olhar cada vez mais voltado ao consumo consciente e a fidelização a empresas transparentes e que têm impacto positivo na sociedade. Com isso, o comprometimento a melhores práticas deve despertar uma mudança de mentalidade dentre as figuras de liderança, a partir do entendimento do cenário e guiado pelo propósito da empresa, a fim de buscar sucesso em suas iniciativas frente a aberturas de novos mercados, produtos e serviços, stakeholders e investimentos. Por fim, para que as esferas ESG prosperem na organização, as três letras precisam estar em pé de igualdade na estratégia corporativa, assim não sendo desassociadas, mas sim evidenciadas como agentes de transformação com foco em ampliar seu impacto na sociedade e gerar valor para todos os envolvidos. Por Ramon Maciel Ramon da Silva Maciel, 19 anos, é graduando de ciências econômicas na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e value creation intern na Mondoré. Interessado por economia, política, sustentabilidade e impacto social. Engajado na luta por direitos LGBTQIA+ e iniciativas de atuação responsável, acredita que é possível impactar a sociedade de forma positiva, por meio da mobilização e engajamento dos cidadãos.
- Eu consumo, tu consomes, ele consome. Nós conscientizamos, vós mobilizais, eles transformam
Consumo, marcas e segmentos são conceitos comuns no mercado comercial, assim como uma abordagem profissional de Marketing e Comunicação. Mas quando falamos de causas sociais, ONGs e projetos de impacto social, esta atuação deveria ser diferente? Esta discussão não é de hoje, mas continua atual. É sobre isso que fala o artigo Percival Caropreso que publicamos no Blog AdC de hoje. Confira abaixo. Numa análise fria e técnica, Marketing e Comunicação vendem causas sociais da mesma forma que vendem marcas e produtos comerciais. Vivemos em um mercado livre, onde o cidadão escolhe sua causa e atuação social da mesma forma que o consumidor faz suas decisões de compra. Afinal, eles são heterônimos de uma mesma pessoa: cidadão e consumidor. No mercado comercial há Categorias: alimentação, higiene pessoal, bebidas, automóveis, serviços financeiros, informática, telefonia e muitas outras. Dentro das Categorias há Segmentos: alimentos diet, naturais, ready-to-eat, infantis; automóveis de passeio, utilitários, vans, populares, de luxo; telefonia fixa, móvel, business; cartões de débito, de crédito, de lojas, de afinidade. No mercado social também há Categorias: saúde, infância, adolescência, terceira idade, drogas, ecologia, miséria, fome e muitas outras. E também há Segmentos: aids, câncer, deficiência física, visual, mental; preservação da flora, da fauna, do ar, das águas; geração de renda, educação, capacitação. Em cada Categoria e Segmento há Marcas. Nestlé, Sadia, Coca-Cola, Pepsi, Antarctica, Brahma, Dove, Albany, Palmolive, Imédia, Davene, Chevrolet, Ford, Fiat, VW, Embratel, Telefônica, Vivo, Claro, Nokia, Motorola, Siemens, MasterCard, VISA, etc. De outro lado, as Marcas Sociais: Fundação Abrinq, AACD, Teleton, Criança Esperança, Instituto Ayrton Senna, CARE, Dorina Nowill, GRAAC, TUCCA, Doutores da Alegria, Green Peace, SOS MataAtlântica, Casa do Zezinho, Pastoral da Criança, Sou da Paz, etc. Cada Marca tem seus produtos, que são a materialização de sua imagem na ação concreta de mercado, em contato funcional com o consumidor e cidadão. Chevrolet vende Celta, Corsa, Astra, Vectra, Omega. A Fundação Abrinq oferece Biblioteca Viva, Garagem Digital, Programa Empresa Amiga da Criança, Crer para Ver, Prefeito Amigo da Criança. Está claro o clutter em que esse consumidor e cidadão vive: ele é bombardeado por ofertas de todo lado. Por maiores que sejam suas ambições de consumo e sua consciência social, seu poder de compra é limitado e sua capacidade de adesão a causas também é. O que uma Marca Social deve fazer para conquistar preferência e fidelidade num mercado tão disputado, para melhor cumprir com sua missão e desempenhar seu papel de transformação social? O mesmo que uma marca comercial faz para ter sucesso: não começar pelo fascínio do Marketing e da Comunicação, não se encantar pelas tecnicalidades. Marketing e Comunicação são os últimos estágios num Planejamento Estratégico, tanto de uma marca comercial como de uma Marca Social. Toda Marca Social de sucesso está assentada num sólido Plano Corporativo e Político, com suas visões, missões e valores. Daí deriva um Plano de Negócios competitivo. E só daí nasce um Plano de Marketing inteligente e responsável. O Plano de Marketing inspira o Plano de Comunicação. A Comunicação precisa ser forte e criativa, para se destacar, criar Share of Awareness para a Causa Social e para a ONG. Despertado o conhecimento, a Comunicação provoca reflexão: Share of Consciousness. A conscientização tem que fazer sentido, ser próxima do público: Share of Relevance ou Share of Heart, que sensibiliza o cidadão. De nada vale construir apenas conhecimento, conscientização e relevância. A Comunicação tem que mobilizar, provocar ação. Share of Mobilization é a responsabilidade individual colocada em prática pelo coletivo, que se transforma em solidariedade concreta: Share of Time, Share of Wallet, Share of Action. O que amarra esses passos todos no processo de Comunicação é sempre uma Idéia forte e criativa. Essa idéia, expandida com consistência estratégica dentro dos valores políticos, dá unidade à Imagem e ao Posicionamento da Causa e da ONG perante todos seus públicos de interlocução: Primeiro, Segundo e Terceiro Setores, parceiros estratégicos, voluntários, comunidades, sociedade em geral e consumidores-cidadãos em particular. Repito: uma Marca, comercial ou social, não pode começar pelo fascínio do Marketing e da Comunicação, não pode se encantar pelas tecnicalidades. Na área social é ainda mais decisivo fugir da leviandade técnica, para que não se percam a essência e a razão de ser das ONGs. Esta é uma discussão antiga. Em Junho de 1996, Andrés Thompson, então diretor da Kellogg Foundation para a América Latina, escreveu o artigo ENTRE PETER DRUCKER Y BETINHO para a revista argentina Tercer Sector: “Partindo del supuesto que todas las organizaciones sociales hacen cosas buenas, se trata simplesmente de que las hagan, además, bien (…) Los valores y visiones antecedem a las técnicas: el compromiso, el involucramiento y la participación son mas efectivos que una buena gerencia.” É assim que eu entendo, é assim que eu atuei no Segundo e venho atuando no Terceiro Setor: profissionalizar para gerar resultados maiores e sustentáveis. Resultados comerciais e resultados sociais. O sucesso tanto do Segundo como do Terceiro Setor depende de nível político e ideológico, de crenças e convicções, de visão corporativa e de negócios, de marketing, de comunicação, de profissionais responsáveis. E apaixonados. Profissional de Marketing e Comunicação, há mais de 30 anos militando em causas socioambientais, Percival foi VP da América Latina e diretor regional de criação da McCann-Erickson por 14 anos, além de fundador da consultoria Setor 2 ½. #DicasdeMarketing #Empreendedorismo #ProjetosSociais #Marketing #CausasSociais #PercivalCaropreso #ComunicaçãodeCausas #Consumo #Mercado
- PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PROSPECTIVO: COMO O PLANO DE NEGÓCIOS OTIMIZA O SEU EMPREENDIMENTO
Hoje, o Blog AdC continua a publicação dos artigos escritos pelos alunos do primeiro semestre de Administração da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, a FECAP. A iniciativa é uma parceria da AdC com a instituição para que os estudantes tenham contato com o empreendedorismo social. Foi criada uma atividade complementar voluntária com apoio do professor Edson Barbero e do voluntário Rodrigo Fadelli para que os alunos produzissem textos relacionados ao trabalho da Aventura de Construir. Conversamos com ambos sobre o desenvolvimento do projeto na entrevista que pode ser acessada neste link. Há algumas semanas, publicamos o texto de Haline Yoko Hamaguti, sobre as dificuldades enfrentadas pelos microempreendedores. Hoje publicamos o texto de Beatriz Solda Rodrigues, Emanuelle da Silva Praseres e Julia Florian de Queiroz sobre a importância de um plano de negócios para o seu empreendimento. Confira! É fato que empreender no Brasil não é uma das tarefas mais fáceis para o brasileiro, especialmente àqueles mais vulneráveis da sociedade, contudo, mostra-se crescente o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) nesse atual cenário de crise, e, de acordo com o Sebrae, constam mais de 2,6 milhões de novos MEIs criados em 2020, totalizando cerca de 11,3 milhões em todo o Brasil. Se você se identifica com essa realidade de empreender, mas não sabe como iniciar e não possui todos os mecanismos necessários, há um caminho para que comece ou alavanque seu negócio de maneira certeira. E para isso, vamos ao primeiro passo e o mais importante: o Plano de Negócios. Esse planejamento consiste em descrever, por meio da elaboração de um documento, os objetivos da empresa, bem como o seu desenvolvimento, a fim de diminuir eventuais riscos no mercado. Assim sendo, pode-se observar as três principais funções exercidas por ele: 1) Instrumento de Planejamento – planejamento mercadológico, técnico, financeiro, jurídico e organizacional; 2) Instrumento de Diagnóstico – avalia a evolução da empresa, ao elaborar um acompanhamento comparativo (previsto e o que vem sendo realizado); 3) Ferramenta de Financiamento – facilita a negociação e obtenção de capital de terceiros. Em concordância, cabe ressaltar a importância de se planejar, pois por meio disso é possível idealizar prospectivamente a trajetória de sua entidade, ao organizar ideias, de modo a facilitar a comunicação entre os sócios e investidores, colaborando na captação e alocação de recursos – financeiros, humanos, ou parcerias (stakeholders). Conclui-se, portanto, que um Plano de Negócios bem estabelecido, é capaz de estruturar suas finanças, pontuar metas e alcançá-las. Mas afinal, você sabe como montar um planejamento estratégico para o seu empreendimento? Confira aqui os principais tópicos que devem ser abrangidos: Sumário Executivo É a síntese do Plano de Negócios, necessita ser simples e conciso, com o intuito de despertar o interesse e transmitir o profissionalismo da empresa. Para realizá-lo, você deve destacar, em primeiro plano o nome da empresa, o segmento ao qual ela pertence, os respectivos clientes e produtos oferecidos. E por fim, pontuar as missões, visões e valores, conjuntamente ao perfil dos sócios e suas principais competências profissionais. Análise de Oportunidade e do Contexto Há a avaliação tanto do aspecto externo da ideia, ou seja, sua relação com o mercado, quanto do âmbito interno, ao correlacionar o perfil empreendedor usando a Análise SWOT (Força, Fraqueza, Oportunidade e Ameaça), abordando uma perspectiva mais ampla, definindo o nicho de interesse da empresa, bem como seus fornecedores e potenciais concorrentes. Descrição do Negócio Define a estrutura e o funcionamento do empreendimento, para que seja compreendida a sua função na geração de valor agregado. Assim, contempla a organização, a liderança e a administração, considerando os clientes atendidos, os produtos oferecidos e a precificação dos mesmos. Projeções Financeiras Engloba relatórios contábeis, como: listagem de custos e despesas, demonstração do fluxo de caixa e também simulações como o break-even point – ponto de igualdade entre custos e receitas (lucro nulo). Anexos Inclusão de referências visuais como gráficos e imagens, e informações pessoais dos empreendedores participantes, tais como currículos e experiências profissionais anteriores. Com isso, viemos demonstrar a relevância em consolidar um Plano de Negócios assertivo para acompanhar, de forma analítica, o desenvolvimento da empresa, a curto e longo prazo, a fim de tomar decisões racionalmente e evitar riscos futuros – antecipando situações e elaborando estratégias de competitividade. O intuito da ONG “Aventura de Construir” é fornecer suporte aos MEIs de baixa renda, visando o início e a evolução de seus empreendimentos, de forma a democratizar o acesso ao Plano de Negócios àqueles que não tem base ou conhecimento mas possuem força de vontade e espírito empreendedor. No blog da AdC você encontra um apoio solidário, através do oferecimento de cursos on-line, palestras, mentorias e o melhor de tudo: gratuitamente! Este link te dá acesso ao passo a passo detalhado de como montar seu Plano de Negócios. Por Beatriz Solda Rodrigues, Emanuelle da Silva Praseres e Julia Florian de Queiroz Beatriz Solda Rodrigues tem 18 anos, cursa Ciências Econômicas pela FECAP está em busca da primeira experiência profissional. Emanuelle Praseres tem 19 anos, é jovem aprendiz no Esporte Clube Pinheiros e está no primeiro ano da graduação de Ciências Econômicas na FECAP. Julia Florian de Queiroz tem 19 anos, reside em São Paulo e é estudante de Ciências Econômicas pela FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). Está em busca da primeira oportunidade de emprego.
- Missão Cumprida! Conclusão do Projeto Aventure-se
Hoje, dia 21 de julho, se encerra o projeto Aventure-se, iniciativa de promoção do empreendedorismo da periferia nas estações lilás e amarela do metrô de São Paulo. A ação consiste em cartazes espalhados desde abril por 25 estações do metrô, além de peças em vídeo divulgadas dentro dos vagões, com QR Codes e links que levam a uma plataforma online de ensino, com cursos voltados aos empreendedores. Tudo isso fruto de uma parceria da Aventura de Construir com o Instituto Camargo Corrêa, a ViaQuatro e a ViaMobilidade. Neste período, publicamos uma entrevista com Marcelo Lucato e Percival Caropreso sobre a criação visual da campanha e também uma conversa com Bárbara Bueno e Diana Siqueira, Diretora Executiva do Instituto Camargo Corrêa e Coordenadora de Sustentabilidade da ViaQuatro e ViaMobilidade, respectivamente. Hoje, publicamos o relato de quem foi a cara da campanha. Os microempreendedores, acompanhados pela Aventura de Construir e presentes nos cartazes, foram fotografados por Diego de Carvalho, ele mesmo um dos retratados. Confira primeiro uma breve conversa com o fotógrafo sobre este projeto, e depois trechos dos outros empreendedores contando sobre sua participação. O fotógrafo Diego de Carvalho começou a colaborar com a Aventura de Construir em 2019, durante a exposição “Identificam-se Protagonistas”, atuando como um microempreendedor que apoia outros microempreendedores. O projeto promoveu uma exposição de fotos, no metrô de São Paulo, exibindo diversos empreendedores atendidos pela AdC, com o objetivo de dar visibilidade a estes “protagonistas de suas comunidades”. Em 2021, ele volta a colaborar conosco no projeto Aventure-se. AdC – Fale um pouco sobre você, Diego. Diego de Carvalho – Sou Diego, eu atuo como fotógrafo e nasci na zona leste de São Paulo, na Mooca. Não tão periferia quanto Itaquera, por exemplo, mas é zona leste. E acho bem massa o trabalho que a Aventura de Construir faz, que acompanho desde 2019. Eu me sinto atuando muito no lugar onde nasci e fui criado. Ainda que não more mais na periferia, isso é muito importante para mim porque eu sentia falta de ajuda quando estava lá. Me mudei faz uns cinco ou seis anos, mas já atuava como fotógrafo, como videomaker e como criador de conteúdo, essa sempre foi a minha área de atuação. Não sou formado em cinema, ainda, mas esse é um sonho que quero realizar. Então o mais massa da Aventura de Construir ter chegado até mim e ter rolado esse encontro foi isso: eu me sinto muito grato e muito honrado pelo fato de poder estar ajudando as pessoas que vem do lugar de onde eu vim. Talvez seja esta a maior satisfação fazer parte desse projeto. Acho que o lance de ter as minhas fotos por aí é importante também para o que eu faço, para onde eu quero chegar, mas o lance é poder colaborar e dar voz para a nossa galera. AdC – Você já havia participado da exposição Identificam-se Protagonistas, em 2019. Como rolou o convite para participar do projeto Aventure-se agora? Diego – Eu conheci a Silvia [Caironi, Coordenadora-geral da Aventura de Construir] em 2019 e desde então a gente nunca parou de se falar. A gente troca mensagens e se vê às vezes. Então ela apresentou o projeto Aventure-se para mim e eu achei massa. E o fato de eu estar em uma das fotos, com os empreendedores, têm tudo a ver. Com a pandemia eu comecei a sentir a necessidade de continuar a trabalhar, já que não estava tão simples o relacionamento com os clientes na questão de externa, de estar em campo. Por isso eu bolei um esquema de fazer um estúdio em casa, diminuindo o fluxo de pessoas e com os cuidados sanitários necessários, para assim movimentar um outro lado profissional. Voltando a pergunta, a Silvia me ligou, muito animada, me contou sobre o projeto, a gente bateu um papo bem massa e eu senti a identificação. Como eu disse para ti, tudo que a Aventura faz tem muito a ver com a questão social, então eu nem tive muito o que pensar. Costumo abraçar as ideias de vocês, porque confio muito, sei que o que vocês estão fazendo é bom e acredito nisso. Na hora que conheci os personagens, como o David, o Arthur e a Alcione, a gente vai vendo o trabalho dando certo e que as pessoas vão seguir no caminho da evolução. Isso é muito massa. AdC – Como foi o processo de fotografar os empreendedores? Quais os desafios de representar essas pessoas e seus negócios através das lentes? Diego – Eu já fotografei um monte de coisa, estou a bastante tempo fazendo isso, mas esse lance é desafiador. Sempre que a gente chega no lugar não sabemos o que vamos encontrar lá. Sei que vou fotografar um marceneiro, por exemplo, mas mesmo assim não sabemos qual é a condição de luz, a composição, se o local é uma bagunça ou não. Enfim, acontece de tudo. Foi algo parecido com o que aconteceu no Identificam-se Protagonistas, mas as pessoas eram novas e as fotos precisavam ser menos artísticas e ter mais uma narrativa publicitária. Tudo isso foi desafiador e, como sempre digo para mim mesmo em relação ao meu trabalho, poderia ter ficado melhor, mas ficou ótimo! AdC – Como foi a experiência de ter suas fotos expostas novamente no metrô? E como foi ter o seu próprio rosto em um dos cartazes? Diego – Algumas pessoas viram e me reconheceram, mas aí eu sempre falava: “meu, acessa o QR Code, dá uma olhada nos cursos. Você que trabalha com isso, com aquilo, tem tudo a ver sabe”. Eu entendo que talvez tenha que ter um rosto lá, para a pessoa olhar e perceber que tem uma mensagem a ser passada, mas como falei, eu fiquei mais feliz quando as pessoas acessaram o link e encaminharam para outras. Isso é mais massa do que estar com o rosto exposto lá. Eu sou um pouco tímido. Encontrei um cartaz meu na estação Morumbi, parei para tirar uma foto e fiquei com vergonha. Estava sozinho, então pedi para um cara tirar a foto e ficou toda displicente (risos). E respondendo à sua pergunta, foi muito satisfatório mesmo participar do projeto. Tudo que a Aventura faz, independentemente de ser com o metrô ou não, eu acho que é sempre algo bom. Eu falo para a Sílvia sempre que, o que eu puder ajudar nessa questão, sabendo que o audiovisual é importante para mostrar essas histórias, contem comigo. AdC – Que tipo de projetos você gostaria de participar no futuro? Diego – Dar aula de fotografia para crianças, ou alguma oficina, eu acho massa. Sempre quis viabilizar isso de alguma forma, mas não tenho os caminhos claros ainda. Uma espécie de oficina itinerante para as comunidades, em algumas áreas. Eu falo isso porque quando eu vou nesses lugares a molecada pilha, falam “tio, tira uma foto minha” ou “deixa eu tirar uma foto”, então se percebe que eles têm uma sensibilidade aflorada incrível. AdC – Gostaria de acrescentar algo? Diego – É isso, foi muito gratificante participar. Eu acho que é possível sim a gente da periferia conquistar muitas coisas, mas existe um desincentivo absurdo do Estado. Então temos que ajudar mesmo. É o povo que vai conseguir fazer esse levante, e isso que a gente faz já é muita coisa. David dos Santos – de nome artístico David Maderit – é um rapper criado na Brasilândia, periferia da zona norte de São Paulo. Possui um estúdio de música chamado Beat Orgânico, um empreendimento de impacto social que estimula os jovens da comunidade a buscarem uma vida mais digna e cientes da sua cidadania. AdC – Qual foi a importância de estar nesses cartazes, e o que isso trouxe para você? David – Participar da campanha trouxe uma visibilidade pro negócio que não seria possível sem a ajuda da Aventura de Construir. A sensação de reconhecimento é um passo a mais na jornada de transformar o Beat Orgânico Áudio Soluções em um empreendimento sólido, próspero e duradouro, com a missão de ajudar os artistas e trazer novas oportunidades para a periferia. Alcione Dias trabalha com a venda de roupas no Morro Doce, na periferia de São Paulo. Acompanhada pela AdC desde 2019, já participou de diversos projetos e fez parte da exposição Identificam-se Protagonistas, um registro fotográfico de diversos microempreendedores. Alcione – Para mim, foi muito gratificante ver a minha foto nas maiores estações de metrô de São Paulo. Muitas pessoas viram, comentaram comigo “te vi em tal estação”, fiquei chique! Com isso, veio mais visibilidade no meu Instagram, novas oportunidades e crescimento profissional também. Posso afirmar que foi uma ótima ação de marketing, com custo zero. Através do projeto da Aventura de Construir tenho a cada dia mais e mais pensado como empreendedora, e a empreender na prática, né? Eu sou grata mesmo a todos da AdC que puderam ajudar nessa jornada, que também envolve os cursos, nos quais aprendemos muito. Está sendo muito gratificante e tenho um grande aprendizado com isso. Só tenho a agradecer a todos da Aventura de Construir e todos que colaboraram para isso acontecer. Gratidão! Para publicar os livros produzidos por seu filho Arthur, um adolescente com autismo, Adriana Barros fundou a ABarros Editora. Com seu negócio social, se tornou possível dividir informações com famílias que, assim como ela, convivem com a condição em seu dia a dia. Adriana – Estar em cartazes no metrô da minha cidade, no metrô de São Paulo, foi sensacional, porque transmitiu um sentimento que eu tenho em mim, e que sinto estando com a Aventura de Construir, que é andar. A AdC não me deixa parada como empreendedora, e tem tudo a ver, porque o metrô tem a ver com mobilidade, com as pessoas andando de lá pra cá. Acho que esse foi o significado, expressa essa mobilidade, esse movimento que eu consigo alcançar com assessorias, mentorias e tudo mais. Além disso, é uma alegria poder incentivar pessoas que sonham em empreender, em ter os seus negócios. Tendo ali a foto da ABarros Editora, do Arthur, e contando um pouquinho sobre a gente, pode inspirar e incentivar as pessoas a fazer isso também, a saírem da zona de conforto e se tornarem empreendedores. Essa é a importância.
- A importância do desenvolvimento sustentável para o seu negócio
Hoje, no mundo do empreendedorismo, falamos muito sobre ESG. Do inglês “environmental, social and governance”, a sigla é usada para se referir às melhores práticas ambientais, sociais e de governança de um negócio. Ao mesmo tempo, falamos também sobre valor compartilhado, ou seja, políticas e práticas que aumentam a competitividade de uma empresa, ao mesmo tempo em que melhoram as condições socioeconômicas nas comunidades em que se atua. Pode-se mudar esses termos ao longo do tempo. A entrevista abaixo, realizada em 2008 com Percival Caropreso, não se fala em conceitos como ESG ou valor compartilhado, mas a sua essência está ali. Ao falar sobre Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Socioambiental, estamos refletindo sobre temas importantíssimos ao mundo dos negócios. Importância esta que ficou ainda mais evidente a partir da pandemia de coronavírus. Essas discussões chegaram para ficar. Com a pandemia e com as redes sociais, as empresas não podem mais se esconder nesse sentido. Cabe a todos pensar os seus negócios levando em conta essas questões. Para ajudar nesse processo, publicamos a entrevista abaixo. Quando as empresas começaram a se preocupar com o desenvolvimento sustentável? Essa iniciativa partiu por conta da pressão dos consumidores ou por outros motivos? Toda e qualquer atividade humana sempre se preocupou com o seu desenvolvimento sustentável, ainda que intuitivamente, desde que o mundo é mundo. É da natureza humana buscar sua sobrevivência hoje e garanti-la para o amanhã. Do ponto de vista empresarial, sustentabilidade é criar valor e riqueza no mercado de hoje, já forjando as condições para perpetuar esse valor e essa riqueza no futuro. A sustentabilidade sempre esteve presente em todas as eras da história da Humanidade, da evolução da sociedade e da economia. Um artesão da Idade Média garantia a sustentabilidade do seu negócio através da compra mais eficiente de matérias-primas, do aumento da produtividade da sua oficina, da melhor distribuição da sua produção, de uma saudável relação entre o que ele investia para produzir e o que ganhava com a venda. Sua ambição era de curto prazo. Sua visão de futuro enxergava, no máximo, a preparação de seus filhos para tocar o negócio dali a alguns anos. A gestão desse artesão limitava-se a isso. E ela já era sustentável para a época, na medida em que o negócio prosperava no presente e tomavam-se cuidados para ele continuar prosperando no futuro. A esse artesão pouco importava se, no final do dia, ele jogava a água contaminada de resíduos de cobre no riacho atrás da sua oficina. Se ele abatia árvores da região para alimentar a fornalha, cuja fumaça jogava fuligem sobre a aldeia toda. Se a sua mão-de-obra era praticamente escrava, inclusive com trabalho infantil. Revolução agrícola, revolução industrial, revolução da informação, revolução tecnológica – sempre as empresas tiveram que atuar de forma objetiva, para o bem imediato e para a sustentabilidade de seu próprio negócio ao longo do tempo. O que vivemos hoje é o acirramento e a ampliação das exigências que as empresas têm que cumprir para a saúde atual de seus negócios e para a perpetuação de sua prosperidade. Os públicos de interesse, com os quais as empresas se relacionam, vêm crescendo, articulando-se e exercendo pressão sobre a gestão dos negócios, sua operação e impactos na sociedade e no meio ambiente. Consumidores são um desses públicos de interesse mais direto para as empresas. A cada nova geração de consumidores que ingressa no mercado, aumenta o nível de informação, consciência e exigência quanto à gestão responsável das empresas, se elas de fato praticam ou não o desenvolvimento sustentável. Qual é o papel das empresas nessa questão? O papel das empresas é o papel de toda a sociedade, de todos nós: serem conscientes e responsáveis na gestão e na operação de seus negócios. Do mesmo modo que cada um de nós tem a obrigação de ser consciente e responsável, social e ambientalmente, na forma de levar a vida. A responsabilidade das empresas é maior, porque as empresas são maiores, com atuação maciça, em escala. Empresas têm uma energia e uma força gigantescas. Empresas têm recursos e gestão de recursos. Empresas têm poder de mobilização e articulação em níveis paroquiais, locais, regionais e mundiais. Empresas têm tecnologia, inovação. Empresas têm interesses e compromissos de prosperidade de curto prazo e visão de longo prazo. Empresas produzem resultados e impactos do seu tamanho, portanto têm responsabilidade socioambiental proporcional a esse tamanho. Nada mais natural que as empresas tenham atuação responsável, gestão de desenvolvimento sustentável. É um interesse legítimo de negócios, como era legítimo o interesse daquele artesão medieval: garantir a saúde de seus negócios no presente e perpetuar essa saúde no futuro. As diferenças estão na complexidade das demandas e pressões de hoje, na diversidade dos públicos de interesse e na urgência das mudanças dos modelos de gestão empresarial. Todos temos pressa de tentar viver e fazer negócios numa sociedade e num meio ambiente saudáveis, com algum futuro visível. Mas os recursos naturais e o tempo passam rápido, esgotam-se rápido nos dias de hoje. O que mais preocupa os executivos quando o assunto é responsabilidade socioambiental? Acredito que seja o noviciado de todos no assunto, uma prática tão antiga, mas agora vital. Esse noviciado dá margem a interpretações, a assunções, a equívocos e oportunismos de todo tipo e de toda parte. Outra preocupação me parece ser com a mudança do modelo de gestão dos negócios. Sempre é difícil substituir um jeito consagrado e seguro de fazer as coisas. Ainda mais quando a mudança necessária nas empresas é visceral, orgânica à gestão dos negócios, à operação, à forma mesma de investir, financiar, contratar, comprar, produzir, negociar, distribuir, vender, acompanhar o produto após as vendas, lucrar, crescer. Sustentabilidade, mais do que lucratividade e crescimento nos moldes que aprendemos a fazer negócios, é Desenvolvimento compartilhado: ganho imediato combinado com desenvolvimento, que leva ao ganho duradouro. Para todos: o negócio, a sociedade, o meio ambiente. Empresas adotam práticas de Responsabilidade Socioambiental como se fossem práticas de Sustentabilidade. São, porém, apenas em parte. A Responsabilidade Socioambiental é um pilar da Gestão Sustentável, a Cidadania Empresarial, mas não é toda a Sustentabilidade da empresa. Responsabilidade Socioambiental é um conjunto de práticas sociais e ambientais responsáveis, que visam uma contrapartida da empresa à sociedade e ao meio ambiente de onde ela tira seu sustento. Responsabilidade Socioambiental é uma estratégia corporativa e de negócios de curto e longo prazo. Ninguém consegue prosperar por muito tempo numa sociedade inferior, injusta, e num mundo devastado. A sustentabilidade também está tornando-se uma exigência nas relações B2B? Uma empresa se relaciona com uma complexa multiplicidade de partes interessadas, diretamente ligadas aos seus negócios. O público mais imediato e importante é o interno, a comunidade de profissionais da própria empresa, seus funcionários, colaboradores, terceirizados ou não. Como círculos concêntricos quando jogamos uma pedra num lago, em seguida vêm os parceiros de negócios históricos e firmes, digamos os fornecedores, prestadores de serviços, de matéria prima, de recursos. O círculo final é o dos clientes, consumidores ou empresas. Mas esta é uma analogia linear, cartesiana, confortavelmente antiga. Se pensarmos abertamente, todo mundo é cliente de todo mundo. A melhor imagem talvez não a seja de uma pedra jogada no lago, mas sim a de várias pedras jogadas ao mesmo tempo no mesmo lago. Círculos se sobrepõem, cruzam a água em várias direções, relacionam-se, uns mudam o movimento dos outros. Mas o epicentro é o mesmo: a empresa. Não será sadia a relação de negócios da empresa, se não houver uma comunhão de visões e valores socioambientais, sobre gestão sustentável e a forma de fazer negócios com todos seus círculos de relacionamento. Este é um dos mais decisivos papéis de uma grande empresa: usar seu poder e trabalhar em rede com seus parceiros de negócios – fornecedores e clientes – para que todos compartilhem de forma integrada, cooperada e multiplicadora as mesmas práticas responsáveis em seus negócios. Isto é ou deverá ser cada vez mais o business-to-business sustentável. Como o consumidor participa do desenvolvimento sustentável? O consumidor participa sendo, ele mesmo em primeiro lugar, um ser consciente e responsável em seus valores, conduta e comportamento. Sendo, enfim, um cidadão. Parte importante de toda cidadania é a capacidade de cada um usar sua ação, dentro de seus limites de poder e alcance, para exercer pressão sadia e positiva em seus pares. Uma empresa é par do seu consumidor, ou deveria querer ser. O consumidor tem o poder de preferir e manter-se leal a empresas e marcas que comprovadamente tenham atuação responsável e pratiquem o desenvolvimento sustentável. Da mesma forma que o consumidor tem o poder de execrar, afastar-se de empresas e marcas irresponsáveis ou, pior, de empresas e marcas que posam de responsáveis apenas no discurso cosmético de imagem (green-washing). A cada nova geração de consumidores há mais lucidez, que vem da educação, da quantidade, qualidade, velocidade e interatividade da informação. Está sendo forjada rapidamente uma mentalidade de valores responsáveis, uma nova geração de cidadãos. No Brasil ainda é pequeno e fluido o contingente de consumidores que recompensa ou pune marcas e empresas pelo grau de responsabilidade da sua atuação. Mas daqui a alguns anos, como serão os consumidores que irão decidir o quê e de quem comprar? Serão consumidores-cidadãos de fato. O que eles trarão na cabeça e no coração irá afetar diretamente o destino do que eles trarão no bolso. Além do reconhecimento ou da punição através do exercício de consumo, o cidadão-consumidor já hoje também exerce seu direito de botar a boca no mundo. Falar bem ou falar mal de empresas e marcas, através do poder de disseminação que os meios de comunicação têm hoje. Esses novos consumidores são implacáveis, afiando-se a cada dia. Não dá mais para esconder da mídia, dos formadores de opinião, da sociedade, a diferença entre Imagem e Reputação. Imagem é o que eu quero que pensem e achem de mim. Reputação é a comprovação na prática dessa imagem que eu projeto. É preciso investir em tecnologia para ser ecologicamente sustentável? Uma visão apenas ecológica do futuro não é suficiente. É importante, mas o buraco em que todos estamos é bem mais embaixo. O fundamental é praticar de fato o desenvolvimento sustentável nos negócios, na operação. Isso pressupõe criar um novo modelo de gestão, de A a Z dentro da empresa, que alinhe e comprometa toda a operação com discursos e práticas responsáveis. Inovação é o caminho para se criar esse novo modelo. Investir no desenvolvimento de novas tecnologias sustentáveis, dentro das quais estão as tecnologias ecologicamente exemplares, é o combustível limpo que impulsiona essa revisão do modelo de gestão e operação. Aqui está, mais uma vez, a importância do papel das empresas nas transformações socioambientais a partir e através dos negócios. Empresas têm poder e recursos financeiros, intelectuais, tecnológicos, legais, de planejamento e gestão. Empresas têm escala, impacto. Empresas têm interesse nos seus negócios. Portanto, investir em inovação e novas tecnologias sustentáveis é estratégia corporativa e de negócios, não filantropia empresarial. Percival Caropreso, 18 agosto 2008 Percival é membro do Conselho Consultivo da Aventura de Construir. Profissional de Marketing e Comunicação, há mais de 30 anos militando em causas socioambientais. VP América Latina e Diretor Regional de Criação (McCann-Erickson) por 14 anos e fundador da consultoria Setor 2 ½
- Os Desafios do Microempreendedor
A partir de hoje, começamos a publicar uma série de artigos escritos pelos alunos do primeiro semestre de Administração da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, a FECAP. Essa iniciativa é uma parceria da AdC com a instituição para que os estudantes tenham contato com o empreendedorismo social. Com apoio do professor Edson Barbero e do voluntário Rodrigo Fadelli, foi criada uma atividade complementar voluntária para que os alunos produzissem textos relacionados ao trabalho da Aventura de Construir. Conversamos com ambos sobre o desenvolvimento do projeto na entrevista que pode ser acessada neste link. Confira abaixo o primeiro artigo, escrito por Haline Yoko Hamaguti sobre as dificuldades enfrentadas pelos microempreendedores. Com a pandemia do novo Coronavírus, no começo do ano de 2020, cerca de um ano atrás, milhares de brasileiros se viram confinados em suas casas e, devido à crise econômica vivenciada pelo País, sem seus empregos e uma forma de se sustentar. Neste contexto, muitos veem no microempreendedorismo uma nova oportunidade de renda. Os dados mostram que desde o início da quarentena, cerca de 600 mil trabalhadores tornaram-se MEI (microempreendedor individual) para atender as demandas, principalmente, de produtos para higiene pessoal. Esses trabalhadores, foram também o maior número de buscas por cursos de qualificações, de acordo com o SEBRAE, chegando até a 15 mil buscas por dia, só no Estado de São Paulo, para tirarem suas dúvidas sobre os acessos a créditos e como se engajar no e-commerce, de forma eficiente, que ganhou força durante a pandemia. Apesar das tantas possibilidades, ser um MEI não é uma tarefa fácil. A burocracia em relação a empréstimos de créditos, com todas as condições para essa realização, distanciam os microempreendedores dos serviços bancários que podem ser oferecidos como direito, gerando também uma certa insegurança, visto que as barreiras impossibilitam que seus negócios sigam em frente e consigam crescer. Até mesmo para usar o seu CNPJ, são apresentadas enormes dificuldades, fazendo com que o empreendedor prefira trabalhar com suas contas pessoais, o que torna ainda mais difícil a motivação para o empreendedor impulsionar os seus negócios. Outra dificuldade encontrada, segundo especialistas do SEBRAE, é a emissão de notas fiscais pois em muitas cidades ainda é realizada de forma manual, e o problema que esses locais enfrentam são a falta de informações corretas em relação aos procedimentos realizados fornecidas pelo empreendedor. Mas esse não é o único problema. As dificuldades que um trabalhador enfrenta está longe de acabar. Além da dificuldade que se deparam com o auxílio de créditos, financiamentos e emissão de CNPJ, os donos de negócios precisam ter um faturamento anual de R$81 mil, pagar taxas para manter seus benefícios com o auxílio-doença, possibilidade de conseguir uma máquina para cartões, aposentadoria etc., mas sem garantia de férias completas, e ir em busca de informações que nem sempre estão dispostas de forma clara a eles. Atualmente, cerca de 99% dos negócios formais são compostos por microempreendedores. Isso significa que grande parte da economia brasileira é movida e levantada por esses pequenos empreendedores. Os dados levantados pelo World Bank, apontam também que esses trabalhadores geram cerca de 60% dos empregos, o que significa 600 milhões de novos empregos em 15 anos. e 40% do PIB. Só no Brasil são 9,5 milhões de microempresas em sua totalidade. Os números, apesar de bastante empolgantes, ainda não mostram a realidade dos que enfrentam os diversos problemas que são impostos por uma burocracia e deveria auxiliar mais do que prejudicar. Esses problemas podem, no entanto, ser resolvidos com uma melhor disponibilização de informações e passo-a-passos sobre como o microempreendedor deve realizá-los de forma mais didática; devem ser oferecidos cursos, com programas de mentorias para esses trabalhadores; devem ser apresentadas, de forma clara, as etapas para que sejam tomadas decisões racionais para o melhoramento dos empreendimentos, realizando uma estruturação dos problemas, gerando alternativas e por fim fazer uma avaliação das consequências dessas alternativas com avaliações de riscos, sobre as priorizações de ideias etc., para que haja um melhor engajamento nas ideias dos processos de decisões e, por fim, auxiliando no processo de implementação: como deve ser realizada e posta em ação as ideias. Devemos, então, apresentar informações claras para que o microempreendedor consiga explorar o contexto em que vive, como durante a pandemia com o engajamento de novas tecnologias para ampliação do seu comércio, mostrando como identificar as oportunidades e como superar de forma eficaz o seu empreendimento. Só assim, quem sabe, mais pessoas consigam passar por cima das dificuldades e dar voz ao grande pequeno empreendimento e tem ajudado milhares de famílias a terem o seu pão de cada dia e uma possibilidade de ter um lugar ao sol neste grande universo do empreendedorismo! Por Haline Yoko Hamaguti Haline tem 23 anos, cursa sua segunda graduação em Administração na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP). No momento está em busca de um emprego para aprender na prática sobre o grande mundo do empreendedorismo para que um dia possa conseguir administrar o seu próprio negócio, podendo fazer a diferença na vida das pessoas. Bibliografia: https://www.hojeemdia.com.br/primeiro-plano/microempreendedor-ainda-enfrenta-v%C3%A1rias-barreiras-ap%C3%B3s-10-anos-de-cria%C3%A7%C3%A3o-do-mei-1.729255 https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/conheca-as-principais-dificuldade-dos-empreendedores-na-crise,7a7119a21f041710VgnVCM1000004c00210aRCRD https://www1.folha.uol.com.br/mpme/2020/08/brasil-ganha-600-mil-microempreendedores-durante-a-quarentena.shtml
- AdC entrevista Instituto Camargo Corrêa e ViaQuatro / ViaMobilidade sobre Projeto Aventure-se
Desde abril, o projeto Aventure-se promove o empreendedorismo da periferia nas estações lilás e amarela do metrô de São Paulo. A ação consiste em cartazes espalhados por 25 estações do metrô, além de peças em vídeo divulgadas dentro dos vagões, com QR Codes e links que levam a uma plataforma online de ensino, com cursos voltados aos empreendedores. Tudo isso fruto de uma parceria da Aventura de Construir com o Instituto Camargo Corrêa, a ViaQuatro e a ViaMobilidade. Há algumas semanas, conversamos com Marcelo Lucato e Percival Caropreso sobre a criação visual da campanha. Hoje conversamos sobre as parcerias que geraram o projeto com Bárbara Bueno, Diretora Executiva do Instituto Camargo Corrêa, e Diana Siqueira, Coordenadora de Sustentabilidade da ViaQuatro e ViaMobilidade. Confira a entrevista! Diana, como surgiu a relação da ViaQuatro e ViaMobilidade com a Aventura de Construir? E como se deu início a esse projeto? Diana Siqueira – Na área de sustentabilidade da ViaQuatro, nós temos o propósito de levar à população ações e campanhas voltadas a temas de relevância social. A parceria com a Aventura de Construir já vem de antes dessa campanha que realizamos agora. Nós fizemos uma exposição muito legal com a AdC sobre empreendedores que conseguiram vencer e construir empreendimentos de sucesso na periferia. Então, como uma forma de dar continuidade a essa parceria tão profícua naquele momento, a gente buscou fazer esse novo projeto, divulgando outras atividades da Aventura de Construir. Promovendo assim essa pauta do desenvolvimento do empreendedorismo e da formação social de empreendedores com cursos gratuitos voltados ao seu aperfeiçoamento. Bárbara, como começou a relação do Instituto Camargo Corrêa com a AdC? E como se desenvolveu esse projeto? Bárbara Bueno – O Instituto está completando seus 21 anos ao final deste ano. Ele foi concebido como sendo o braço social do grupo Camargo Corrêa, que detém vários segmentos, sendo o mais conhecido o da construção civil. O ICC foi concebido para ser o braço social do investimento social privado do grupo. Em um momento, observou-se muito acertadamente que a área da construção civil pesada, ou seja, as grandes obras como hidrelétricas, rodovias e aeroportos, traziam não só um lucro significativo para o grupo, mas também um impacto maior na comunidade ao redor dessas obras. Sendo obras muito grandes, geram impactos ambientais e sociais. Por exemplo, quando a gente chegava em um local como Tucuruí, no Pará, para construir a segunda maior hidrelétrica do país. Imagine 20 mil homens e algo em torno de 50 mil equipamentos chegando numa cidade com menos de 200 mil habitantes. Eu não posso chegar nessa comunidade, usufruir desse rio maravilhoso, levar energia para o país inteiro e não contribuir socialmente para essa comunidade. Foi esse entendimento, atrelado ao que hoje se fala sobre lucro com propósito, que levou o grupo a criar o Instituto Camargo Corrêa, há 21 anos. E, assim, ele se destinou a focar nas comunidades vulneráveis nas quais estão as nossas obras de construção civil. Esse é o link que a gente faz com a Aventura de Construir e as linhas lilás e amarela. Primeiro porque a gente participou destas obras do metrô e segundo porque o projeto tem muito a ver com o propósito ao qual o instituto se destina, que não é a filantropia. A gente faz campanhas de doação, mas o nosso foco não é esse. A gente entende que a doação atende apenas uma necessidade pontual e momentânea. Porém, quando você mexe com empreendedorismo, com educação, com formação intelectual, com propósito intelectual, cultural e educacional, você está dando o mote para perpetuar a inteligência e o empreendedorismo. E a partir daí vem o trabalho, a sustentabilidade financeira e econômica. Os grandes projetos sociais no quais trabalhamos são os que têm o fundo no empreendedorismo. É aquele jargão sobre ensinar a pescar. E tem tudo a ver com o propósito da Aventura de Construir, ao promover acesso à educação e ao conhecimento para quem até então não tinha. Com uma cultura maior e com uma educação maior, surge a possibilidade para aquela pessoa de aumentar ou de criar um empreendedorismo que traga benefícios para todos nós. Qual é a importância de apoiar projetos sociais hoje? O que motiva as instituições a apoiar esse tipo de projeto? Diana – Nós atuamos na ViaQuatro/ViaMobilidade sempre voltados a essa questão da mobilidade urbana e da mobilidade humana. A gente acredita que, além de transportar pessoas, a gente também tem o propósito e a responsabilidade de levar à população discursos inclusivos, que tragam a mensagem do respeito social, do desenvolvimento social e da construção de uma sociedade mais harmônica e desenvolvida. Então, o desenvolvimento e a realização dessas campanhas e projetos sociais tem sempre o propósito de aproveitar o espaço público e a visibilidade que a gente tem, enquanto espaço de circulação de milhares de pessoas, para levar à sociedade a discussão sobre pautas sociais relevantes. Sempre com o propósito de promover o desenvolvimento social, a inclusão social e o empreendedorismo, principalmente nesse momento da pandemia. Nesse sentido, o empreendedorismo da periferia é uma questão muito importante. A gente tem a possibilidade de levar geração de renda e gerar empoderamento social à periferia por meio desses projetos. É muito importante que a gente capacite esses empreendedores para que eles tenham poder para barganhar no mercado, para legitimar e desenvolver os seus projetos sociais. Quando nós desenvolvemos os cartazes e todo o material de divulgação, nós pensamos nesse sentido de sempre incentivar o empreendedorismo social da periferia e contribuir para a formação social, econômica e gerencial desses empreendedores, por meio desses cursos em parceria com a Aventura de Construir. Bárbara – Se o Brasil fosse perfeito, nós não precisaríamos de instituições, fundações e ONGs, porque o lado público faria a sua parte e o privado também. Mas a gente sabe que na nossa realidade, até pelo tamanho do nosso território, não conseguimos estender o atendimento a todos, de uma forma uniforme. Seja ele privado ou público. Sobre o privado, volto a falar sobre o tal do lucro do propósito. Para mim, não faz muito sentido que o empreendedorismo lucre através de uma comunidade e de um território sem compartilhar com determinadas responsabilidades. E eu digo isso não apenas para as empresas mas também para o pessoal. Acredito muito que todas as pessoas deveriam contribuir um pouquinho, porque se a gente se utiliza do meio ambiente e da comunidade onde a gente pertence, me parece natural que a gente contribua com esse lugar. Isso parte não só de um bom senso, mas de uma responsabilidade social. A companhia que usufrui daquela localidade onde o metrô está instaurado e se utiliza daquela comunidade, das pessoas que utilizam a linha, deve devolver àquela comunidade uma situação que favoreça as necessidades existentes ali. O propósito do instituto não é fazer aquilo que a gente acha bonito, o que a gente quer. Mas sim olhar para essa comunidade e perguntar o que ela precisa, quais são os piores problemas dali, para que a gente possa atuar e ajudar. Além disso, devemos sempre focar numa situação de sustentabilidade e perenidade. É fácil doar um agasalho, mas ano que vem a criança que o utilizou cresceu e não usa mais. Porém, e se a gente ensinar, levar alguma condição para melhorar aquele empreendedor caseiro, fazer com que ele aumente a sua receita e garanta sustento ao longo da vida para seus filhos? Isso favorece não só aquele espaço físico mas também o recurso humano que lá está para fazer esse negócio acontecer. São essas pessoas que usufruem do metrô e que também trazem lucratividade para o nosso negócio. Como vocês veem que este projeto ajuda a superar as maiores dificuldades enfrentadas pelos micro e pequenos empreendedores de periferia num momento tão crítico como o atual? Bárbara – Nesse momento em que estamos vivendo, antes de mais nada, a gente precisa apoiar esses microempreendedores, pessoas que estão literalmente sustentando o país e sustentando as suas famílias. A gente tem uma pesquisa que mostra que 70% das pessoas de baixa renda estão numa realidade de microempreendedorismo. E o que lhes faltam, muitas vezes, é essa formação, um incentivo. A gente acredita que a nossa responsabilidade social está literalmente ligada a essa realidade de formação, de educação e de mantenimento desses profissionais que alavancam a economia do país. Diana – Quando a gente conversou com a Aventura de Construir, levando o propósito de divulgar a temática do empreendedorismo social para as estações, a gente sempre trouxe para a discussão a importância de falar com esse público incentivando eles a desenvolver esse potencial de empreendimento, tornando o processo cada vez mais técnico e gerencial. Entendemos que montar e gerir um negócio, tornando isso perene e sustentável a longo prazo, não é um processo fácil. Abrir e gerir uma empresa é um processo complicado e árduo, e quanto mais apoio eles tiverem, mais conhecimento técnico, melhor. Isso possibilita a criação de maneiras novas de gestão, formas inovadoras de atingir os seus clientes e fazer negócios. O propósito do projeto nas estações foi incentivar o público, os clientes, a irem em busca desses empreendedores, mas também fazer com que esses empreendedores aprendessem a maneira de gerir projetos de tal forma que se tornem sustentáveis a longo prazo. Temos um grande problema no Brasil, hoje, que é a quantidade de empresas que abrem e fecham em curto e médio prazo, porque as pessoas não têm condição e conhecimento técnico para manter esses empreendimentos. Que aprendizados e benefícios as instituições obtiveram a partir do projeto Aventure-se? Bárbara – Sempre tem coisa nova para aprender e disseminar, e acho que nesse ponto o grande mote foi o estímulo ao empreendedorismo local. Apoiar as instituições para que a gente consiga replicar e fazer com que cada vez mais empreendedores e mais pessoas estejam dentro desse propósito educacional, de formação e ensino, para alavancar o empreendedorismo, faz muita diferença. Nesse momento a gente tem observado que são os microempreendedores que estão alavancando a economia local. Fizemos uma pesquisa, há pouco tempo, e observamos que em determinadas comunidades vulneráveis, especialmente as favelas, cerca de 76% de mulheres estão sendo o arrimo de família. Elas são empreendedoras, microempreendedoras ou empreendedoras informais. Esse incentivo e esse estímulo ao empreendedorismo tem um objetivo de perenidade, de sustentabilidade e de transformação, que é o propósito especial do ICC: inspirar para transformar. Inspirar essa mulher e esse homem para transformar a realidade da comunidade onde ele vive. Desta forma, o projeto da Aventura de Construir foi realmente significativo e esperamos ter oportunidades de trabalhar juntos em outras outras questões nesse sentido. Diana – A gente vem aprendendo com a Aventura de Construir desde o nosso primeiro projeto. Nossa primeira conversa com a AdC já foi muito bacana, porque foi aquele momento de vislumbrar o potencial dos empreendedores locais. Foi quando vimos aquelas histórias de sucesso, de pessoas que tinham uma ideia, foram atrás para implementá-la e fazer com que ganhasse forma ao longo do tempo. Essa nova parceria foi uma proposta de expandir esse projeto que a Aventura de Construir tem, de desenvolver o empreendedorismo local, o empreendedorismo social e incentivar outros empreendedores a galgarem o mesmo caminho e o mesmo espaço. Foi um caminho muito bacana que a gente percorreu. No primeiro momento, descobrindo o potencial dos empreendedores locais, nas histórias incríveis que existem na periferia sobre empreendimentos de sucesso. E, nesse segundo projeto, foi bacana o discurso de que existe um potencial e uma competência técnica dentro da periferia, que só precisa de um empurrão para ser desenvolvido e bem sucedido. Dessa forma, vamos construir isso juntos e levar para a sociedade, fazendo com que a ela descubra e contribua com o desenvolvimento deste potencial. Levar para as estações esse discurso de que existem empreendimentos de sucesso na periferia que precisam ser incentivados, que toda sociedade pode contribuir com o propósito da geração de renda e do desenvolvimento social, já é uma receita do sucesso. A periferia tem grandes ideias e potenciais. Compete a nós, que temos alcance a muitas pessoas, legitimar este discurso e contribuir para o desenvolvimento social levando informações e conhecimento para a população. Para finalizar, o que vocês imaginam para o futuro? Que projetos podem surgir em parceria com a Aventura de Construir? Bárbara – Pegando esse gancho que a gente não pode ignorar, a questão da pandemia, é muito inusitada a mudança no perfil da comunidade na qual a gente está inserido. Eu tenho falado muito para os líderes com quem tenho conversado sobre isso. Ano passado a gente via uma necessidade premente relacionada a doações para pessoas mais velhas, como álcool gel, máscara etc. Esse ano, a coisa mudou muito. Por isso, acho que a Aventura de Construir caiu no nosso colo como uma luz. Não só os mais velhos têm sido prejudicados com a pandemia. Hoje, estamos em uma realidade que a população um pouco mais nova está sofrendo com isso. Neste momento estão sendo prejudicados os trabalhadores que não podem trabalhar, porque ficam doentes ou têm sequelas, e também as mães de famílias, porque estão cuidando do marido ou do pai doente, ou ainda, cuidando do filho que não tem onde deixar. Neste sentido, temos percebido um pedido muito forte por acolhimento de crianças e das mulheres. A gente acompanhou essa pesquisa que mostrou que mais de 70% das famílias das comunidades vulneráveis em que estamos inseridos tem sua renda vinda da mulher. Mas com a pandemia muitas mulheres estão deixando de trabalhar, deixando os seus negócios que tinham começado ou idealizado. Então, onde o Instituto Camargo Corrêa tem atuado muito? Temos atuado, por exemplo, em atenção às creches, porque se a criança tem um lugar para ir, a mãe tem um lugar para trabalhar. Se a mãe tem esse acolhimento que a permite usar algumas horas do seu dia para gerar a renda de sua família, já é uma grande ajuda. Eu entendo que a gente pode trabalhar junto muito mais, e em muitos outros segmentos que sejam fundamentais para passar por esse momento com um pouco menos de angústia e sofrimento para as comunidades vulneráveis. Diana – Quando fizemos a reunião sobre a divulgação dos cursos, eu comentei que eu gostaria de trazer a segunda onda de projetos sociais de sucesso, queria demonstrar o quanto essa formação e esse incentivo ao empreendimento social da periferia trouxe bons frutos. Então, a próxima parceria que eu vislumbro é justamente nesse sentido: já mostramos o potencial da periferia, buscamos ampliá-lo por meio dos cursos, agora vamos divulgar o quanto isso trouxe de resultado para a sociedade. E, assim, fazer com que esse ciclo do bem continue a crescer. O nosso propósito é continuar demonstrando que existe um caminho a ser trilhado muito benéfico a sociedade, do incentivo ao empreendimento social. Também queremos continuar demonstrando o potencial da periferia em gerar empreendimentos de sucesso. Então, o desafio que eu trago para vocês é mostrar os resultados de tudo isso, o resultado dessa formação sendo aplicado na prática. Vamos conhecer esses empreendedores que fizeram os cursos, ver como isso resultou em desenvolvimento social para eles e como implementaram isso na prática. E vamos assim consolidar cada vez mais essa roda do bem.
- AVENTURA DE CONSTRUIR – As raízes que ajudam os microempreendedores a criarem desenvolvimento
O Blog AdC de hoje traz um artigo escrito por Silvia Caironi e Cinzia Abbondio para a revista italiana Il Sussidiario, sobre a Aventura de Construir e suas raízes. Pode-se acessar a publicação original em italiano neste link. Confira abaixo o texto traduzido! Aventura de Construir atua no Brasil há dez anos, com foco em microempresários para ajudar no desenvolvimento territorial local. Dez anos após o nascimento da AdC, Silvia Caironi, responsável da ONG Aventura de Construir (AdC) que atua na periferia de São Paulo no Brasil, e Cínzia Abbondio, que a apoiou desde o início e ainda apoia, se questionam sobre como a instituição pode crescer sem perder sua origem e a força do método no qual a Aventura de Construir (AdC) se sustenta. A Aventura de Construir (AdC) trabalha em prol do desenvolvimento territorial local e inclusivo nas periferias, com foco nos microempreendedores, como o sujeito mais ativo e protagonista da transformação dos territórios em que vivem, ou seja, a periferia de São Paulo. A partir de 2020, o trabalho também se espalhou para outras regiões do Brasil dando a muitos microempreendedores a oportunidade de se sustentarem e não terem que desistir de seus interesses empresariais. Há 10 anos, querendo responder a uma necessidade real, pensava-se em oferecer microcrédito, mas logo se percebeu que as necessidades eram muito mais articuladas e profundas. Por isso a AdC, após a realização de uma pesquisa de campo aprofundada e abrangente do contexto, foi estruturada para oferecer formação presencial e online, assessorias com uma metodologia de avaliação 360º e acompanhamento de microempresas, além do acesso ao microcrédito. A AdC, hoje, é composta por uma equipe de 10 pessoas e muitos voluntários. São pessoas muito qualificadas que disponibilizam seu profissionalismo e também são fascinadas pelo método da AdC, pelo trabalho que é feito com cada empreendedor, que é acompanhado através de diversas ferramentas. A intuição comum é que este vínculo com a origem, as raízes (A árvore cresce, mas deve ter profundas raízes, cit. dom Giussani) é fundamental para que o sentido da obra não se perca. Este deve ser avaliado por meio de dados objetivos e revisados de forma realista, razão pela qual, desde 2015, AdC criou um sistema de avaliação de impacto socioambiental. Aplica-se essa metodologia para mensurar a mudança qualitativa e quantitativa que cada projeto gera nos participantes e, assim, poder melhorar sua própria atuação. A AdC seria, portanto, muito diferente se não fosse baseada: – na necessidade de conhecer e entender a realidade de cada microempreendedor e seu contexto, como ponto de partida para identificar necessidades e responder a elas da forma mais adequada; – sobre a centralidade da pessoa, com todo esse desejo de protagonismo que cada um traz consigo; – sobre a possibilidade de “fazer COM“, em vez de “fazer PARA”, os microempreendedores: uma experiência que se mostrou ainda mais poderosa durante este último ano e meio de pandemia de covid-19, na qual o trabalho em rede nos permitiu responder, valorizando a história particular de muitos deles e aprofundando ainda mais o ideal que os move na construção de seus negócios para fazer crescer as suas comunidades de periferia. O mais surpreendente é que, quando você tenta verificar sua missão dentro da ação e usar o método de trabalho como bússola diária, não só você trabalha com mais consciência e paixão, mas nasce uma possibilidade de encontro com algumas das mais diversas e aparentemente “distantes” realidades. Nesses 10 anos aprendemos a colaborar com empresas, com órgãos públicos locais e nacionais, universidades, com profissionais tão diferentes, e a descobrir que a mudança ocorre por meio de cada um desses encontros. Aprendemos também que a esperança está ligada a fatos concretos e inesperados que acontecem. Uma noite recebo uma mensagem de Whatsapp de Reginaldo, que mora na zona oeste de São Paulo. Nos primeiros meses da pandemia ele teve que fechar sua doceria e transferi-la para sua casa. Depois, ele encontrou um emprego e continuou seu negócio para incrementar sua renda. Ele adoeceu com o COVID e passou algumas semanas na UTI. Mas o que dizia essa mensagem? “Eu não sei como agradecer porque nestas semanas doente e em risco de vida, o que me sustentou? Eu sempre pensei em vocês da AdC, como vocês me ajudaram a entender que a vida é uma luta e que vale a pena viver como protagonistas. O que eu aprendi com vocês, nunca imaginei que poderia ser útil para mim nesta situação. Sílvia conclui: “…e eu nem o conhecia pessoalmente, então esse fato me comove ainda mais porque me faz entender a dinâmica da geração de um sujeito, porque ele foi gerado por outras pessoas que trabalham na AdC”. Ao mesmo tempo, através de fatos como este, entende-se ainda mais o valor da resposta de um amigo com quem estávamos falando sobre a ONG: “O equilíbrio entre o que é feito e nossa consciência é sempre instável. O importante é que você tenha as raízes, que você continuamente construa o nexo. O risco de perder o significado está sempre lá, mas depende de você. O problema de não perder a origem tem a ver com o antes e o depois”. Pode-se concluir dizendo que no nome está a essência da Aventura de Construir. Lemos na Enciclopédia Treccani: Aventura, singular feminino; em francês aventure, e em latim adventura “o que vai acontecer”: caso inesperado, evento singular e extraordinário; empreendimento arriscado mas atraente e cheio de fascínio pelo que há nele desconhecido ou inesperado. Construir, do Latim construĕre, composto de con- e struĕre: fabricar edifícios; compor uma máquina com a união de peças convenientemente arranjadas, colocá-las juntas peça por peça. No final das contas é o segredo da vida.
- AdC entrevista Edson Barbero e Rodrigo Fadelli da FECAP
A Aventura de Construir desenvolveu, junto com a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, a FECAP, um projeto para envolver os alunos da instituição em empreendedorismo social. Com apoio do professor Edson Barbero e de Rodrigo Fadelli, foi criada uma atividade complementar voluntária para os alunos do curso de administração, para que os estudantes do primeiro semestre produzissem textos relacionados ao trabalho da AdC. O objetivo foi aproximar esses alunos de experiências da vida real, em situações de vulnerabilidade. Os textos foram revisados junto com os professores e serão publicados no nosso blog de forma periódica. Para contar um pouco mais sobre esse projeto, Silvia Caironi, Coordenadora-geral da AdC, entrevistou Edson e Rodrigo sobre as expectativas e impressões que tiveram durante esta experiência. Confira! Silvia Caironi – O professor Edson da FECAP e seu assistente, Rodrigo desenvolveram um projeto bem interessante, com o objetivo de favorecer uma geração de interesse, empatia e conhecimento nos alunos sobre temas ligados ao desenvolvimento econômico e a microempreendedores de baixa renda. Por isso, esse projeto foi desenvolvido em conjunto com a Aventura de Construir. Primeiro, gostaria que eles se apresentassem. Edson Barbero – Eu sou professor da disciplina de Fundamentos da Administração da FECAP. Por meio desta posição que conseguimos desenvolver juntos – a Aventura de Construir e a FECAP – um projeto tão interessante, que acho que deve dar frutos tanto atualmente quanto no futuro. Rodrigo Fadelli – Além de outras atividades, eu estou auxiliando o professor Barbero na disciplina da FECAP. Em meio às atividades da disciplina, ele me fez o convite para tocar esse projeto junto com os alunos e a AdC. Isso tem sido muito interessante para mim, profissionalmente, e tenho visto que é muito interessante também para os alunos. É com prazer que a gente desenvolveu esse projeto, que estamos finalizando. Silvia – Professor Edson, como nasce o projeto e quais são os objetivos? Edson – Na FECAP sempre temos o objetivo de transformar as disciplinas em disciplinas com conteúdos que tenham um significado. Isto é, que a gente consiga não apenas transmitir conteúdos aos estudantes, mas também que eles percebam a razão, os impactos e a verdadeira mobilização daquele conteúdo. Para isso, é necessário que a universidade faça aproximações com a sociedade, e ainda mais particularmente com a sociedade brasileira, para mobilizar recursos diante dos desafios que a gente vive no mundo. Neste sentido, a Aventura de Construir é para nós uma parceria particularmente interessante e particularmente rica em termos de trocas. E pela qual nós temos uma grande admiração. O objetivo concreto do projeto é que, em uma disciplina bastante introdutória de Administração, com alunos do 1º semestre letivo, se proporcione a esses estudantes a possibilidade de dialogar, desde o início do seu curso, com a sociedade. No caso específico, compreender o universo do empreendedorismo social, compreender o universo dos problemas que a sociedade vive e entender como a gestão de empresas pode auxiliar nesse sentido. É um projeto em que os alunos participaram de maneira autônoma e voluntária, isso também é importante. A gente não trabalhou, neste caso em particular, com uma relação de avaliações da disciplina, ou seja, com as famosas notas. Procuramos incentivar os estudantes a autonomamente buscar esse espaço e acho importante que a universidade oferte esses incentivos, não necessariamente os obrigando. Também, nós consideramos que haja aí uma ponte que as organizações de terceiro setor vejam como positiva. Os estudantes podem trazer conteúdos interessantes das universidades, podem fazer trabalhos voluntários e, digamos, oxigenar as visões interiores das organizações. Esperamos que este projeto tenha frutos para a sociedade brasileira, mais particularmente a paulistana, para a AdC, para nós da FECAP e para eles, estudantes, pessoalmente. Silvia – Rodrigo, o que comentaria em relação ao desenvolvimento do projeto? Como você viu estas expectativas citadas pelo professor Edson acontecerem durante o desenvolvimento do projeto? Rodrigo – O que é interessante na condução do projeto, que eu acabei acompanhando de forma mais próxima com o auxílio do professor, foi o interesse dos alunos de participar de forma voluntária do projeto. É interessante também perceber, já de primeira, o entusiasmo deles em entender e conhecer a Aventura de Construir. Tanto é que teve um caso de uma aluna que procurou a Silvia, porque ela quer aprofundar o que ela trabalha e possíveis projetos com a AdC. Então é como o professor falou, a questão de relacionar esses alunos com a sociedade e com o que acontece ao redor deles. Não devem ficar apenas dentro da universidade, mas se relacionar com o que tem no entorno. Acho que esse é um papel que o projeto começa a fazer, e de forma interessante já que eles estão iniciando no curso. E acredito que, depois desse deslumbre inicial, também é interessante o quanto eles tiverem a oportunidade de trabalhar a questão da escrita, de estudar os temas. Eles foram em diversas temáticas, buscaram o que era do interesse deles, olharam os conteúdos que já aprenderam com o professor Barbero e fizeram uma conexão com o mundo real. Houve também a questão de eles trabalharem com organização, com planejamento. Por mais curto que seja o prazo, é um projeto com etapas, com datas. E, finalmente, eles vão ter uma oportunidade muito interessante de, ainda tão novos, ter conteúdos de autoria própria publicados, impulsionados pela AdC. Isso forma uma espécie de portfólio deles no mundo digital, o que é muito importante pois cada vez mais a nossa marca pessoal é algo que nos vende. Então está sendo muito rico para os alunos e para mim também, nessa condução. Silvia – Para mim, foi interessante ver que vocês aproveitaram o projeto também para fortalecer estes aspectos, como a escrita em português, ou para mostrar o valor de uma comunicação através das redes sociais. O que vocês enxergaram como sendo o maior aprendizado para os alunos? Edson – A educação brasileira muito frequentemente se baseia, de modo equivocado, numa linha demasiadamente diretiva, demasiadamente baseada no esquema do conjunto de conceitos, teorias, com o professor cobrando, com o estudo para a prova. É claro que esse ensino clássico tem o seu papel, mas nós sabemos que a gente aprende muito frequentemente por meio de mecanismos menos formalizados, mais autônomos. Essa última palavra para mim é muito central. O aprendizado deve ter um espaço de autonomia em relação ao que eu desejo ver, minhas preferências, aquilo que eu estou fazendo não porque existe um requerimento formal e alguma obrigação, mas porque eu sinto uma motivação intrínseca sobre aquele ponto. Para mim, é uma grande avenida para desenvolvimento humano. A gente precisa na educação compreender a diferença dos aspectos da escolarização mais formalizada e este espaço que os humanos precisam para se desenvolver. Eu acho que a aproximação de escolas, notadamente escolas de negócios como é o caso da FECAP, com organizações do terceiro setor como a AdC é um grande espaço para isso. O Brasil é um país que apresenta problemas sociais extremamente complexos, que todos nós vemos. E os estudantes serem estimulados e terem a autonomia de tentar se aproximar desses problemas, apresentando resultados, é um espaço de vivências extremamente importante. No mercado de trabalho, falando de uma parte mais utilitária, isso é muito valorizado. Se eu vou contratar uma pessoa, não contrato apenas porque ela estudou em uma boa escola e teve boas notas. Isso tem a sua importância, mas considero sobretudo o que ela fez, o legado que ela deixou, a diferença que ela provocou no mundo a sua volta, a relevância dos impactos que ela causa em seu entorno. Nós precisamos criar espaços para que os alunos possam fazer isso, de forma orientada. Nesse sentido, foi um trabalho magnífico que o Rodrigo fez, porque autonomia não é a mesma coisa que independência pouco orientada, acredito que autonomia precisa ter alguém mais sênior para que possa haver uma troca, uma orientação. Então eu acho que esse foi o principal ponto: como eu posso aprender não somente repetindo os padrões, mas tendo a vivência autônoma de gerar ideias diferentes, perceber os meus erros, perceber o outro e gerar essa empatia. Silvia – Nós vivemos em uma sociedade líquida, uma sociedade com um processo de transformação muito rápido, e o Covid até acelerou tudo isso. Então, o que significa formar esses estudantes em um ambiente acadêmico, normalmente mais estruturado e formal, levando em conta estas mudanças dessa sociedade cada vez mais rápida nas transformações? Este projeto pode ser uma resposta a isso? Rodrigo – A FECAP já é uma instituição que busca não ter tanta rigidez como o mundo acadêmico às vezes tem. Eu sou um ex-aluno que agora está voltando a se relacionar com a Instituição e quando eu vi, recentemente, o quanto o curso de Administração se alterou, eu fiquei muito feliz. Isso porque percebi que a FECAP realmente caminha para ser moderna, uma instituição que está muito atrelada ao que vem acontecendo no mundo corporativo, que é o que eu vivo no dia a dia. Então, acho que os alunos acabam não enfrentando tanto essa rigidez, mas é muito importante, como nós já falamos, a relação com o mundo externo. E o projeto é um desses casos. Ele possibilitou aos alunos essa relação com o empreendedorismo social, que a AdC faz e, a partir da AdC, se relacionar com os problemas que acontecem na sociedade, que são enfrentados pelo mundo. Eu vi que durante o projeto os estudantes acabaram desenvolvendo e trabalhando questões com criatividade, que é uma característica cada vez mais cobrada no mundo corporativo. Vi eles trabalhando com negociação, durante a discussão das temáticas e em relação às alterações nos textos. Eu gostei muito da forma como eles apontavam a opinião deles dentro dos textos, eles não encaravam o meu direcionamento como imposições, mas como sugestões. Alguns estão trabalhando em grupo, então a gente vê algumas questões de liderança, com negociação entre eles. Tiveram que dialogar as disciplinas com problemas reais, o que desenvolve o pensamento crítico. Enfim, vi uma série de questões que os alunos desenvolveram ao decorrer do projeto. Silvia – Você comentou sobre criatividade e negociação. De acordo com um trabalho realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, foram identificadas 10 soft skills consideradas mais importantes para encarar esse mundo em contínua transformação. Vocês acham que houve também o desenvolvimento de outras habilidades durante o projeto, como flexibilidade, iniciativa, resiliência, capacidade de estar aberto a novas oportunidades e competências informáticas de base? Edson – Faço uma conexão com a pergunta anterior. Você coloca muito bem o fato de que a sociedade líquida, conforme descrita pelo Zygmunt Bauman, realmente requer pessoas de natureza adaptativa e flexível. Essas 10 soft skills não são as únicas necessárias, e também não representam uma redução da importância das questões teóricas e técnicas. É uma adição e não um porém. Isto é, agora além de ser necessário conhecimentos técnicos, são importantes também as soft skills. E como a gente desenvolve essas coisas? O Rodrigo coloca muito bem que a FECAP há muitos anos vem se transformando para ser essa escola conectada com o mundo real. Para isso, eu vou ter que discutir com as pessoas, criar novas soluções, ser flexível com realidades imprevistas. Apesar de ser um projeto localizado, discutindo textos, está ali encapsulado a negociação do tema, a autonomia por aprender a aprender, também denominado Life Long Learning. Então, tenho muita certeza que esse projeto veio de encontro dessas soft skills. Devo destacar talvez a característica mais importante de todas: a ética, a moralidade. Muitas vezes, na educação, se isolou esse tema. Ficamos aqui dentro das escolas e esquecemos de todos os problemas do mundo. Este projeto fez, no mínimo, que os alunos olhassem a uma certa realidade, que é muito clara no Brasil. São pessoas de baixa renda, com dificuldades sociais, com grandes dramas que vivem na nossa cidade. E não é nada longe daqui, me refiro à cidade de São Paulo. Isso tudo para que eles possam desenvolver esse olhar sensível, compromissado com os problemas do Brasil. Acho que este é só um pequeno passo, mas vamos seguir adiante. Silvia – Rodrigo, você que acompanhou de perto a experiência desses alunos, o que mais chamou a atenção na forma na qual os alunos vivenciaram esta experiência? Rodrigo – Venho comentando com o professor desde o início que o envolvimento deles com o projeto chama muito atenção. Além das questões que são desenvolvidas, acho que a intensidade com que eles se envolveram é muito marcante. Sendo um projeto que trata de empreendedorismo social, que visa impactar a nossa sociedade de forma positiva, eu fico muito esperançoso sobre os próximos profissionais de administração que estarão no mercado. Além de ter profissionais tecnicamente preparados, com as soft skills do futuro, é mais importante que tenhamos seres humanos para transformar a nossa sociedade em um lugar melhor, para transformar as formas como fazemos negócios. Eu percebi que eles esperavam realmente poder contribuir com a AdC, com a sociedade e com os empreendedores que a AdC acompanha. Silvia – Para dar alguns números, quantos alunos participaram dessa matéria complementar? Rodrigo – No projeto são nove alunos envolvidos, mas a produção final será de seis artigos, pois alguns estão trabalhando em grupo. A princípio, o professor direcionou para que eles trabalhassem em grupo porque eles são alunos iniciantes, mas a maior parte dos alunos quis trabalhar individualmente. Achei muito interessante a atitude deles. Silvia – Professor Edson, os resultados, as vivências e as experiências desta matéria complementar podem orientar projetos futuros de outras disciplinas? Edson – Sem dúvida. Esses são os nossos primeiros produtos minimamente viáveis desta iniciativa de aproximação da AdC com a FECAP. Eu acho que a gente pode fazer bem mais do que isso. Então, por exemplo, podemos estender este mesmo tipo de abordagem da construção textual, que é uma construção baseada em pesquisa, em entendimento da realidade, um trabalho de equipe que envolve o aprimoramento da linguagem escrita, da linguagem digital. A gente pode estender também essa parceria para outras questões, como o trabalho voluntário, que acho muito importante. Podemos pensar juntos em um modelo em que os alunos ajam diretamente na realidade, de alguma forma, que aprendam a partir dessa ação. Então é apenas um exemplo de uma estrada possível, viável e interessante para todas as partes. Tudo com muita gestão cuidadosa, com garantia de qualidade. Isso é o nosso jeito de ser, tanto da AdC quanto da FECAP. Silvia – Eu queria fazer uma última pergunta: O que vocês enxergam que esses alunos esperam, além da publicação, da Aventura de Construir? Tem algo que nós podemos propor para eles? Edson – Acho que é um caminho amplo. O principal ponto para jovens neste momento é a aprendizagem e experiências que levam a ela. O aprender vem da ação, mas não somente disso. Há autores que apontam que as experiências não necessariamente levam ao aprendizado, à internalização de novas competências, a novos olhares do mundo. Então, quem sabe, a gente possa conversar sobre projetos que envolvam o voluntariado e pensemos juntos em como esses alunos vão fazer o Sensemaking. É preciso realizar ações com a orientação de pessoas mais seniores, para avaliar as lideranças, a gestão de processo, a mensuração dos resultados e a questão ética que envolve as ações. Neste sentido, o professor Rodrigo acompanhou os alunos neste projeto, e também a professora Angélica, doutora na área de Letras, contribuiu com os aspectos da língua portuguesa. O que quero dizer, em outras palavras, é que a gente pode pensar em projetos juntos, com a clareza que esses dois pontos aconteceram. Primeiro a ação, que inclusive pode gerar impacto social concreto. Nós queremos que isso aconteça, que a Universidade melhore o seu entorno. A FECAP é uma instituição muito Paulistana, no centro da cidade, e nós temos uma responsabilidade muito grande para a metrópole que vivemos, inclusive para as pessoas excluídas da educação mais estruturada. E também o segundo ponto: queremos que eles tirem para suas vidas um aprendizado significativo, transformador. A partir de Julho, confira aqui no blog os textos produzidos pelos alunos da FECAP.
- HISTÓRIAS DE RESILIÊNCIA E CRIATIVIDADE EM MOMENTOS DE CRISE (PARTE 2)
A Jornada de Sustentabilidade deste mês finaliza a história de três empreendedoras do projeto Sustentabilidade Financeira. Em abril, a experiência compartilhada foi da Franciele, e agora vamos finalizar com: 2. Elaine, trabalha atualmente de forma temporária como conselheira tutelar e durante o projeto começou comercializar açaí, em Cajamar, SP. 3. Mayara, co-proprietária do Burguer at Home em Jundiaí, SP. 2. ELAINE – A POSSIBILIDADE DE NOVOS COMEÇOS Elaine é mãe de dois filhos, mora em Cajamar, SP, onde trabalha temporariamente como conselheira tutelar. Tem tentado diferentes formas de empreender e gerar renda para cuidar da sua família, porém, teve que desistir diversas vezes dos seus negócios, porque não davam certo. No ano passado, 2020, ela estava sem emprego e, para poder sustentar sua família, ela teve que recorrer a empréstimos. No começo, com familiares e amigos, e depois, com uma pessoa conhecida, mas não do seu círculo de amizades. O PLANEJAMENTO EM SANAR AS DÍVIDAS Hoje a Elaine está realizando um trabalho temporário por seis meses, no qual trabalha 3 dias por semana e realiza manicure para 3 pessoas conhecidas. Durante as assessorias, ela percebeu a necessidade de administrar de forma adequada e eficiente o seu salário desses cinco meses para pagar as suas dívidas e manter uma estabilidade financeira. Ela está ciente de que o trabalho é temporário. Por isso, quer aproveitar este momento para organizar as suas finanças, reduzir suas dívidas, e ter uma estabilidade financeira quando o trabalho finalizar. A Elaine não tinha claro quanto e quais eram suas dívidas, seus gastos mensais, e junto com o acompanhamento de AdC, ela elaborou: O orçamento familiar, no qual identificou a renda e gastos fixos, e uma previsão dos gastos variáveis que têm durante o mês. Elaboração de uma lista de dívidas identificando: a quem deve? quanto é? quantas parcelas ainda faltam para pagar? Durante as assessorias a Elaine junto com a AdC, realizou um planejamento do pagamento das suas dívidas. De acordo com a realidade financeira da Elaine foi preciso considerar um tempo de 8 meses para que fosse viável e possível realizar o pagamento integral. OUTRAS FONTES DE RENDA Considerando que teria emprego por mais cinco meses, foi identificada a necessidade de ter uma fonte de renda adicional, como um empreendimento, que inclusive possa ser a renda principal quando o contrato de trabalho finalizar. Nesse sentido, a Elaine começou a revenda de Açaí, por ser um produto que pode comprar pronto para a sua venda e realiza a divulgação por meio das redes sociais, além de contar com a ajuda da sua família na entrega do produto, enquanto ela estava no trabalho. Além das atividades anteriores com o fim de poder pagar as dívidas mais urgentes – ou seja, as que estavam gerando juros e aumentando o valor a pagar a cada dia – a Elaine recorreu à venda de alguns itens da sua casa. Em resumo, a Elaine decidiu seguir três atividades para o pagamento das dívidas: Executar o planejamento mensal de pagos das dívidas; Criar um empreendimento, a revenda de açaí; Venda de itens da sua casa; Elaine demonstrou que está tomando a oportunidade de emprego que mesmo sendo temporário, pode gerar mudanças permanentes na sua vida, estabelecendo de uma forma organizada um planejamento de pagamento e criando novas fontes de renda para o sustento financeiro da sua família. Registro fotográfico da primeira assessoria realizada com a Elaine. Registro fotográfico da segunda assessoria realizada com a Elaine. 3.MAYARA – DO RISCO AO PLANEJAMENTO! A Mayara mora em Jundiaí, SP, e é uma empreendedora que num momento crítico, decidiu empreender arriscando o que tinha. No começo da pandemia, Mayara estava enfrentando alguns problemas em seu trabalho, como atrasos em seu pagamento. Seu marido trabalhava na Uber, mas a renda não era suficiente, o capital da família era de apenas R$200 reais. Mesmo assim, decidiram buscar uma solução financeira e criar um negócio de venda de burgers, chamado Burguer at Home Jundiaí. Eles pensaram em produzir e comercializar hambúrgueres, pois o marido da Mayara tem experiência na elaboração de comidas. Devido ao pouco capital que tinham, começaram a produção na sua casa e a comercialização era feita para amigos do casal. Depois de ter criado o empreendimento, seu principal objetivo era poder alugar um espaço próprio para o seu negócio. E, para isso, analisaram os custos e as necessidades do estabelecimento. Assim, entenderam que durante uma pandemia, o estabelecimento pode ser fechado a qualquer momento. Desta forma, perceberam que precisavam apenas de um pequeno espaço para produção das hambúrgueres, cumprindo com todos os padrões de qualidade. A entrega poderia ser feita por meio de aplicativos de delivery e com um motoboy contratado no negócio. Seguiram essa estratégia e, assim, conseguiram ter um estabelecimento, com baixo custo e ajustado às necessidades e contexto da pandemia. AS FUNÇÕES: A divisão das tarefas do negócio são específicas e claras. A Mayara cuida das atividades administrativas, como o controle financeiro, a divulgação e a comercialização, enquanto o seu marido é o responsável pela produção diária dos alimentos e pela busca das compras nos fornecedores. No momento em que a Mayara começou participar das assessorias, manifestou a sua preocupação com o pagamento de algumas dívidas e o desejo de começar a pensar em opções de investimento para o seu empreendimento, pois está sempre pensando em como fazer para avançar a cada dia no seu negócio. Mesmo que durante as assessorias só participasse a Mayara, sempre perguntava e comentava para o seu marido quem estava por perto dela, evidenciando uma busca em conjunto de soluções e passos a seguir como família e sócios. O CONTROLE FINANCEIRO A Mayara começou a realizar um controle financeiro, registrando as entradas e saídas da família e do empreendimento. Na primeira vez que ela realizou o exercício, identificou a existência de um dinheiro que havia sobrado a cada mês, mas ela não sentia que este dinheiro realmente sobrasse, pois a cada mês só tinha o suficiente para pagar as despesas. No mês seguinte, Mayara voltou realizar o mesmo registro de uma forma mais disciplinada e detalhada, chegando a ter um fluxo de caixa diário e mensal. Neste, identificou que realmente o dinheiro que restava a cada mês não era tão alto, como o tinha percebido no anterior exercício. Porém, era o suficiente para realizar o pagamento das suas dívidas e para reinvestir no negócio na procura de aumentar a renda. Para isso, Mayara e seu marido investirão na elaboração e comercialização de marmitas. Mayara percebe a importância de obter educação financeira para poder ter sucesso no seu negócio. Seu trabalho é feito em equipe, juntamente com a sua família. Atualmente, ela encontra-se inscrita no curso Realidade Empreendedora II. TRÊS HISTÓRIAS Franciele, Elaine e Mayara são empreendedoras que demonstraram sua resiliência e criatividade em momentos de crise financeira, para criar soluções. São cientes da importância da educação financeira e de aplicar os conhecimentos adquiridos no dia dia, reformulando constantemente suas estratégias e escolhas de acordo com a realidade que vivem. Procurando a melhor forma de dar continuidade e crescimento aos seus negócios e estabilidade financeira às suas famílias.
- Aupa Jornalismo entrevista Aventura de Construir
O Blog AdC desta semana traz a entrevista realizada pela AUPA – Jornalismo de Impacto com Silvia Caironi e Raquel Santos, da Aventura de Construir. A entrevista, realizada pela repórter Angélica Weise, foi extraída do portal da Aupa e é reproduzida na íntegra a seguir. Confira! Com trajetória de 10 anos, a Aventura de Construir é um negócio social que capacita e acompanha o trabalho de microempreendedores das periferias de São Paulo. Até 2019, a organização já havia impactado indiretamente mais de 32.500 pessoas, segundo dados do relatório de atividades 2019. Mas como estão estes empreendimentos um ano após a pandemia? Como apoiá-los? Vale dizer que o Brasil atingiu a marca de 14,4 milhões de desempregados no primeiro trimestre de 2021, de acordo com pesquisa do IBGE. Neste cenário, muitos buscam pelo empreendedorismo. Foram 2,6 milhões de microempreendedores individuais (MEI) abertos em 2020 – um aumento de 8,4% em relação a 2019, segundo dados do Mapa de Empresas. Durante a crise advinda pelo novo coronavírus, 58,9% empreendedores interromperam o funcionamento temporariamente, afirma pesquisa realizada pelo Sebrae no início da pandemia. Todo este cenário fez com que a Aventura de Construir mudasse a forma de operação. Em 2020, o negócio social passou do presencial para o on-line. Antes eles trabalhavam, sobretudo, na periferia da Zona Oeste de São Paulo, e agora estão trabalhando em todo o Brasil. Para saber mais sobre a atuação da organização em meio à pandemia e tendo as mudanças diante do trabalho como tema principal, a Aupa entrevista Silvia Caironi, coordenadora geral da Aventura de Construir, e Raquel Santos, responsável pela área técnica de desenvolvimento Econômico e Social da ONG, sobre os desafios de quem mora na periferia, o empreendedorismo como fonte de renda, o aumento da informalidade e a queda de renda do trabalhador. AUPA – O empreendedorismo nasce com a falta de trabalho. Mas qual é o maior desafio desses trabalhadores? Silvia Caironi – A perda de trabalho tem várias declinações. Por exemplo, mulheres com filhos pequenos foram as mais afetadas pela pandemia. Nesse sentido, podem ser grandes empresas que fecham e não se preocupam com a recolocação dos próprios. Por exemplo, o banco Bradesco demitiu mais de sete mil pessoas em 2020. Porém, há várias empresas nessa mesma situação. Aliado a isso, há um embate político, como o caso das montadoras de carros. Muitas montadoras estão saindo do Brasil. Não há uma política de incentivos. Com isso, vemos que há aspectos que são da pandemia e a tecnologia está entrando com força. Mas há também uma miopia política. É isso que eu enxergo a respeito das causas da perda de trabalho. E quais são as pessoas desempregadas? São indivíduos de qualquer categoria. Pessoas que têm alto e baixo nível educacional. Então, os desafios desses trabalhadores dependem também dos níveis educacionais que detém. Na Aventura de Construir, trabalhamos com pessoas de baixa renda e baixo nível educacional. Percebemos que o maior desafio é a sustentabilidade desses microempreendedores. Eles podem ser empoderados e precisam de formação, mas não podem parar, pois precisam gerar renda para as próprias famílias. Raquel Santos – Além da perda de trabalho, é necessário observar como isso afeta a família. Por exemplo, uma pessoa casada perde o emprego. O cônjuge também começa a se movimentar. Pode ser que, até então, o parceiro ou, sobretudo, a parceira trabalhava com os afazeres de casa, o que já é árduo. Mas este cônjuge começa a querer ser um pequeno empreendedor para gerar renda. Nós trabalhamos também com a autoestima e com a valorização de pequenos passos. Obviamente, não há como dizer que está tudo bem para o empreendedor que está começando o negócio, senão quebramos a sustentabilidade financeira dos empreendimentos. Mas é preciso valorizar. Geralmente, quando começo uma capacitação, coloco o significado das palavras empreender e empreendedorismo. E um desses significados aparece no dicionário como travessia arriscada. Comento que empreender tem desafios e riscos. E é um desafio muito grande as pessoas se enxergarem como empreendedoras e recuperarem a autoestima – sobretudo quem está desempregado. Há ainda a infraestrutura. Muitos comentam que todo mundo pode virar empreendedor. E você vai perguntar para as pessoas como se faz isso e as pessoas não sabem. Estamos em um projeto que se chama Lamberti Transforma – financiado pela Lamberti, empresa do setor químico, de Nova Odessa (SP). O projeto é voltado àquela região, com foco nas mulheres. Você pergunta ao empreendedor “quantos clientes você tem?”, e a pessoa não sabe responder. E para nós, que estamos de fora e temos um olhar mais geral, se você disser que a pessoa está fazendo errado, você a destrói. O nosso método de construir é despertar o interesse da pessoa. Ou seja, despertar o interesse para que ela identifique quais são as necessidades. Não adianta eu dizer para o empreendedor que ele precisa ter um cadastro de cliente, se isso não faz sentido pra ele. Esse é um desafio do nosso trabalho. Costumamos pensar em degraus. Por exemplo, há um empreendedor, que é informal e ainda não é MEI. Eu vejo isso na primeira assessoria que fazemos na Aventura de Construir. Tenho que pensar se vale a pena sugerir que a pessoa ‘vire MEI’. Preciso pensar no planejamento dele e quais são as suas prioridades. Por isso, em toda a assessoria, passamos algumas pequenas metas e que sejam possíveis de serem realizadas. Raquel Santos – O número de informais aumentou com a pandemia. Mas, dentro do nosso universo, já trabalhávamos com várias pessoas que eram informais. O objetivo do nosso trabalho não é falar mecanicamente que essas pessoas precisam se formalizar. Contudo, todos os cursos e as assessorias que fazemos envolvem uma capacitação sobre os direitos e deveres do MEI. E, nesse movimento, mostramos o que faz sentido e que essa pessoa pode dar um passo para a formalização. Expomos quais são as ferramentas usadas e que poderiam despertar o interesse para fazer com que a pessoa veja que o MEI é uma necessidade concreta. Ao aderir à formalização, você terá direitos e deveres, além de pagar imposto. Colocamos isso de uma forma que faça sentido para essas pessoas – e este movimento está ligado à valorização. Ainda: há também alguns empreendedores que estão começando e não é possível saber se o negócio vingará. Portanto, é necessário um olhar crítico. Silvia Caironi – Um fator que levamos em conta no nosso processo de formação é o apoio à formalização. Em 2020, tínhamos desenhado um projeto que apostava na formalização. Mas decidimos, junto com o financiador, mudar e focar no tema da sustentabilidade. Em um momento como o que vivemos, com a pandemia, acredito que seja quase estrutural o aumento da informalidade. A preocupação maior não é a formalização, mas ter o mínimo de dinheiro para chegar ao fim do mês. Muda muito se o olhar é voltado ao micro ou ao macro. Quando a ênfase é no micro, há incentivos. Mas ao considerar também o macro, é preciso entender que no momento que vivemos há ainda outras prioridades. AUPA – Com a taxa média anual de desemprego no Brasil de 13,5% em 2020, a maior já registrada desde o início da série histórica em 2012, como a Aventura de Construir vê as perspectivas para os empreendedores nas periferias nos próximos anos? Silvia Caironi – Estou preocupada, pois o microempreendedorismo de periferia pode seguir existindo se houver um mínimo de poder aquisitivo no território. Contudo, o poder aquisitivo no território diminuiu muito. Já há pesquisas que comprovam que a classe média brasileira encolheu ao menor patamar em mais de 10 anos, em relação ao total da população. A classe média no Brasil também vive nas periferias. Então, se o poder aquisitivo diminui é complicado, porque o microempreendedor também não consegue gerar economia de escala – o que se consegue gerar em um grande mercado, por exemplo. Então, há um problema de economia de escala, pois é um desafio de poder aquisitivo no território. Por que coloquei os dois temas juntos? Porque se o poder aquisitivo diminuir, deveria haver esforços para que os preços não subam muito. E este é o tema da economia de escala. Vale dizer, o microempreendedor de periferia não é economia de escala. Se diminuir o poder aquisitivo, um consumidor comprará muitas vezes no grande mercado – e na quantidade que pode comprar. Ao mesmo tempo, enxergamos que não há muita possibilidade de desenvolver os territórios periféricos, senão tentando fortalecer aqueles que são os microempreendedores. Não há fórmula. E o que nós tentamos fazer? Pensar junto com eles negócios novos e criativos – ou seja, trabalhar juntos. Nesse sentido, fazemos um trabalho muito profundo de fortalecimento da rede de microempreendedores. É uma rede que não é necessariamente física, é também virtual, com diferentes lugares do Brasil se apoiando. Raquel Santos – É fundamental o fortalecimento do comércio local. Muitos empreendedores periféricos relatam situações como: “Meu vizinho compra um produto no centro e não aqui [na periferia], pois não confia na qualidade do meu trabalho”. Toda vez que os empreendedores relatam algo assim, eu pergunto para eles: “E vocês compram onde?”. Então, mais uma vez trabalhando com esse exercício de devolver a pergunta. Porque sem esse fortalecimento de rede não é possível fortalecer a economia do seu bairro e nem difundir a qualidade do seu trabalho. Então, prestigie o comércio local, compre dos pequenos. AUPA – Gostariam de acrescentar mais algum comentário? Silvia Caironi – Eu entendo que o momento é de muitos desafios, para trabalhadores formais e informais. Ao mesmo tempo, exige que as instituições cresçam, mas não em quantidade. Só que crescer não é só no sentido de ter mais benefícios e mais projetos. É, principalmente, não perder a origem e a missão pela qual se luta. E, dentro desse contexto, é importante também entender como a experiência do Terceiro Setor pode ajudar as empresas, a partir da articulação e da coordenação, que, muitas vezes, as empresas não têm.











