Conservação da biodiversidade da Amazônia une organismo internacional e investimento privado fortalecendo empreendedores locais: entrevista com Fábio Deboni
- Comunicacao Aventura de Construir
- 17 de set.
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Atualizado: 22 de set.

Por Ana Luiza Mahlmeister
O grande potencial do mercado de carbono e a proximidade da COP 30 - a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um encontro global que reunirá líderes de quase 200 países, cientistas, organizações não governamentais (ONGs) e representantes da sociedade civil em Belém (PA) a partir de 10 de novembro - colocam as iniciativas de conservação da biodiversidade sob os holofotes.
Uma delas é a Aliança Bioversity-CIAT, que une dois organismos internacionais: o CIAT (Centro Internacional de Agricultura Tropical) e a Bioversity International, para desenvolver projetos na Ásia, África, América Latina e Central.
O projeto construído pela Aliança no Brasil, como não poderia deixar de ser, tem como alvo a Amazônia. O CAL-PSE (Catalisando e Aprendendo por meio do Engajamento do Setor Privado) é voltado à conservação da biodiversidade da Amazônia Legal. Fábio Deboni, agrônomo de formação e com amplo conhecimento do setor público, com passagens pelo Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Educação, Ministério da Justiça e IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), além de experiência na iniciativa privada no Instituto Sabin, lidera a iniciativa no país. A fase piloto começou em 2017 com financiamento da Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e se consolidou em 2020 com a participação de empresas como Alcoa, Natura, Suzano e Ambev, entre outras que abraçaram o cofinanciamento.
“A ideia foi trazer empresas do setor privado que operam na Amazônia a investir em projetos socioambientais de impacto, onde a USAID entra com 50% e a companhia apoiadora com o restante”, explica Deboni.
Um dos legados do projeto foi a criação da PPA (Plataforma Parceiros pela Amazônia), que se tornou uma Organização não Governamental (ONG), ponta de lança para engajar o setor privado em projetos na Amazônia brasileira visando à conservação da biodiversidade. A PPA é uma plataforma de ação coletiva com diversas iniciativas de apoio à população local e que trabalha com parceiros.
Entre essas iniciativas, que podem ser acompanhadas no site da plataforma, está o 100+Labs, com apoio da Ambev, que impulsiona startups de impacto com soluções para os principais desafios de sustentabilidade. A Ambev também apoia a Aliança Guaraná de Maués (AGM), voltada à conservação da cadeia de valor do guaraná.
A Suzano cofinancia o desenvolvimento sustentável territorial no sudeste paraense, que visa o fortalecimento produtivo, o acesso a mercado e a governança local focada na agricultura familiar, apoiando mulheres e jovens. A iniciativa beneficiará 420 famílias de 13 organizações comunitárias localizadas nos municípios de Dom Eliseu e Ulianópolis.
A entrada de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos teve como consequência o corte de verbas de organizações de apoio como a USAID em projetos internacionais. Por esse motivo, segundo Deboni, o CAL-PSE passará por uma revisão a partir de janeiro de 2026.
Um dos legados foi o desenvolvimento de ferramentas que permitem acompanhar a eficiência e os recursos destinados aos projetos.
“As empresas financiadoras monitoram e têm evidências dos resultados de toda a operação”, diz Deboni.
A plataforma PPA conta com ferramentas e links que demonstram a efetividade dos projetos e suas contribuições para a conservação da biodiversidade.
O CAL-PSE vai continuar até o final deste ano e depois deve passar por um redesenho, pois depende de recursos e financiamento subsidiado.
“A Aliança está estudando como será o trabalho em 2026, discutindo a estratégia e se o projeto será mantido”, diz Deboni.
É necessário saber, por exemplo, se apenas o subsídio das empresas será suficiente.
“No momento estamos amarrando as pontas, fazendo relatórios e registrando todo o trabalho”, afirma.
Uma das alternativas é o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do fundo Amazônia e de outros organismos multilaterais, além do apoio das empresas, mas nada foi assinado ainda.
Segundo Deboni, o Brasil está muito à frente em biodiversidade e conservação da Amazônia Legal comparado com outros países que também fazem fronteira com o Estado, como Peru, Bolívia e Colômbia.
“A plataforma PPA que reúne empresas gera evidências reais de impacto positivo nos territórios em que atua e é um dos principais legados do CAL-PSE em sustentabilidade aplicada”, afirma.
Relembrando sua trajetória até chegar ao CAL-PSE, Deboni conta que sempre se interessou pelo meio ambiente e que a graduação em engenharia agronômica foi a semente para atuar com a área social e educação ambiental. Essa trajetória o levou a trabalhar no Ministério do Meio Ambiente em 2003, no governo Lula I, passando depois por outros ministérios, como o da Educação e o da Justiça, além do IPEA.
O marco da preocupação ambiental no país, segundo Deboni, veio com a Eco-92, realizada naquele ano no Rio de Janeiro, e posteriormente com o Rio+5, Sessão Especial da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em 1997, que avaliou o progresso da Agenda 21 desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
“Com isso vivemos uma efervescência da agenda socioambiental que ampliou a discussão para além das ONGs, envolvendo governos, ministérios e setor privado, com a multissetorialidade dessa agenda alcançando toda a sociedade”, avalia Deboni.
A ocupação desse espaço foi gradativa com o engajamento de empresas e outros atores.
“Hoje estas questões estão encaminhadas, mas não quer dizer que não existam desafios, pois ainda é um campo aberto”, afirma.
Além de trabalhar no CAL-PSE, Deboni produz apresenta o podcast “Impacto na Encruzilhada”, com a gravação de mais de 200 programas onde recebe convidados abordando impacto social, filantropia, investimento social e inovação. É também autor de vários livros, entre eles Inovação Social em tempos de soluções de mercado, O que não te contaram sobre Impacto Social e Reflexões Contemporâneas sobre Investimento Social Privado, além de liderar a Baru, consultoria em inovação social.


