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Conexão universidade e empreendedores de periferia: uma relação que vai além da sala de aula

Entrevista com Camila Ortega, professora da Faculdade Belas Artes, de São Paulo


Imagem institucional da Aventura de Construir sobre ESG, com fundo em tons de verde e foto desfocada de pessoas jogando chapéus de formatura para o alto. Em destaque, o texto: “ESG – O Caminho da Transformação” e “Conexão universidade e empreendedores: uma relação que vai além da sala de aula”. Logotipo da Aventura de Construir no canto superior direito.

por Ana Luiza Mahlmeister


Na parceria entre a universidade e os empreendimentos da periferia todos ganham: alunos, professores e empreendedores são impactados pela relação profissional e por laços construídos durante o processo.


Nesse bate papo com a professora Camila Ortega, professora da Faculdade Belas Artes, voluntária da Aventura de Construir (AdC) desde o início de 2023, ela conta como incentivou os alunos da disciplina Projeto Integrador Multidisciplinar e Extensionista a apoiar negócios periféricos, colocando a teoria na prática.


A Aventura de Construir lançou recentemente o Programa Guarda-chuva que conecta microempreendedores a estudantes universitários por meio de projetos de extensão. A AdC faz a ponte, oferecendo assessorias e capacitações: uma troca que tem um impacto real nos negócios, além de contar com uma iniciativa de crowdfunding para apoiar a ação. Você pode doar pelo link. Construa essa ponte!


Camila Ortega lidera a parceria entre a Faculdade Belas Artes, de São Paulo, e a AdC, onde os alunos ofereceram consultorias de marketing para os empreendedores. Esse relacionamento começou com dois negócios apoiados por dois grupos da turma de marketing da Belas Artes. O objetivo era conhecer as empreendedoras, entender seu negócio e suas dores, propondo melhorias que contribuíssem para aperfeiçoar o empreendimento.


“Quem melhor sabe do negócio são as próprias empreendedoras e o grupo não estava ali para impor nada, mas trazer opções para que avaliassem e escolhessem o que mais gostariam de fazer para avançar”, explica Camila.

Isso implica na análise de cenários e do público-alvo e na apresentação de propostas. O grupo propôs, por exemplo, melhorar a identidade visual do negócio, mais alinhado ao seu público, sempre partindo da necessidade de cada um.


Depois desse contato, as empreendedoras decidem o que quer implementar pensando no impacto a longo prazo. “A ideia não era que o grupo fizesse tudo, mas um processo de aprendizado dos dois lados”, explica Camila.


Ela destaca que uma das principais dificuldades dos negócios da periferia é com as redes sociais e o uso do marketing digital. Para atender essa demanda, a equipe deu ideias de posts mais interessantes para atrair o público, sempre com a preocupação de que possam aplicar as estratégias de forma independente e no longo prazo.


“A primeira experiência de intercâmbio da equipe de alunos de marketing com duas empreendedoras foi tão rica que ampliamos o escopo do programa para 20 grupos com 20 empreendedoras diferentes”, aponta Camila. Essa conexão atendeu várias frentes de negócio como alimentação, moda e artesanato. “Para os alunos foi fundamental conhecerem trabalhos em diferentes áreas, criando empatia para entender os públicos-alvo e criar pontos de contato e comunicações personalizadas, levando em conta a diversidade dos negócios”, afirma Camila.

Uma das maiores dificuldades das empreendedoras é arrumar tempo para alimentar as redes sociais e fazer publicações para divulgar seu negócio. “A dificuldade não era em mexer na ferramenta – muitas delas postam boas fotos e conteúdos --, mas abrir um espaço para se dedicar a isso, pois a maioria trabalha sozinha, tendo que atender pedidos, ver estoque e definir precificação.


“A solução apresentada foi o desenvolvimento de templates e ferramentas que facilitam a comunicação com as redes sociais, sem que precisem dedicar tanto tempo a isso, além do desenvolvimento de um calendário de postagens para tornar a comunicação mais organizada e eficiente”, explica Camila.

Quando ministrou aulas de marketing para empreendedores da AdC, Camila se encantou com o empenho das turmas, a troca de ideias durante as aulas e o compartilhamento do dia a dia das pessoas e suas estratégias.


“Existe uma interrogação constante sobre como podem aplicar novas abordagens para melhorar seu negócio e como davam conta do caos ao dia a dia”, conta Camila.

Ela reforça que aprendeu muito com as aulas e a possibilidade de encontrar pessoas diferentes, ver múltiplos negócios e técnicas além da academia. Isso mostra a importância da conexão universidade e empreendedores da periferia. As aulas trouxeram a publicidade para o dia a dia e ideias práticas, como por exemplo, como uma boleira pode atender melhor seus clientes com porções mais precisas do bolo, ao invés de oferecer um tamanho que vai sobrar na festa; ou ainda, oferecer pedaços em porções individuais. Ou a ideia de uma empreendedora de um salão de beleza de oferecer entretenimento para os filhos das clientes enquanto a mãe está sendo atendida, para que fique mais tranquila. “São reflexões e associação de ideias e experiências de outras pessoas que se encaixam e podem beneficiar outros negócios”, diz Camila.


Tudo isso permite aos alunos saírem da bolha do mundinho acadêmico. “Eles estão acostumados a trabalhar sempre para os mesmos públicos, dos amigos e faixa etária semelhante; e a parceria com a AdC amplia os horizontes, traz mais confiança para arriscar em outros ambientes e atender novas demandas”, analisa Camila.


Outra iniciativa importante são as pesquisas desenvolvidas pelos alunos – que ajudam a entender melhor qual o público e o que ele espera. “Hoje é possível entende um pouco melhor o marketing e a importância de desenvolver planos bem estruturados para o crescimento do negócio”, aponta.


A troca permitiu aprofundar o conhecimento dos alunos sobre preocupações dos empreendedores pouco usuais, como a questão dos alimentos perecíveis, higiene, o cuidado, carinho e respeito com o cliente, além de terem acesso aos bastidores dos negócios e como são pensados.


“O programa é ajustado a cada semestre para aparar arestas e melhorar a conexão dessa experiência”, afirma Camila.

A meta da parceria da Faculdade Belas Artes com a AdC é ampliar o trabalho com os empreendedores, conhecer novos negócios alcançar mais empresas para que os alunos tenham cada vez mais contato com o mundo corporativo real.


“Dá aos alunos a dimensão da responsabilidade e ressignifica o trabalho na sala de aula, gerando pesquisas a partir disso”, diz Camila. Esse contato é muito positivo com reuniões semanais e feedbacks sobre o acompanhamento dos grupos, criando vínculos que extrapolam a sala de aula e o final do semestre.

Essas interações ampliam o impacto de novas propostas, não tanto ideias de novos negócios, mas de como podem aprimorar seu dia a dia, trabalhando suas necessidades para que se sintam cada vez mais seguros na manutenção e crescimento do negócio.


O projeto de parceria Belas Artes e AdC está em sua terceira edição e já atendeu em torno de 40 empreendimentos. O programa de extensão traz impactos fora da faculdade, pois diz respeito a questões sociais e ambientais, e desperta o interesse de outras disciplinas da faculdade.


“Tenho divulgado o projeto para outros professores que podem se interessar e expandir a parceria com a AdC”, completa Camila.

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