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  • Astrofísica e microempreendedores

    Esse não é um texto que vai te dar dicas no formato de tópicos sobre como ser um empreendedor de alto sucesso ou nem oferecer ferramentas secretas. “Faça isso e desfrute as batatas do vencedor que você será”. Pelo contrário, escreverei sobre o básico – o “como trabalhar” – e usarei como exemplo aquilo que aprendi de astrofísica para te contar sobre uma excelente maneira de fazer negócios. POR QUE LER ESTE ARTIGO Hoje se fala bastante sobre empreendedorismo. Questão de contexto, uma vez que as pessoas escrevem a respeito daquilo que se interessam: segundo o último Global Entrepreneurship Monitor, a evolução da atividade empreendedora no Brasil fez o país se situar na primeira posição dentre os 70 analisados (dados pré-crise econômica e política). Sem contar a aspiração cultural que ser empreendedor se tornou. Em uma rápida pesquisa no Google o termo “Steve Jobs” trouxe 317.000.000 de resultados, enquanto “Entrepreneurship” apontou apenas 77.400.000. É uma pena que no meio desse turbilhão de conhecimento quase nada seja dito sobre algo fundamental como o fato das decisões que tomamos serem baseadas na nossa percepção da realidade. Isso quer dizer que para seguir caminho A ou G nós passamos por um processo supostamente lógico de enxergar as condições que estão dadas, julga-las e agir de acordo com os fins que esperamos. O problema é que nós enxergamos o mundo sob uma perspectiva contagiada por nossas ideias de como a realidade é e o mundo funciona. Contaminação esta que vem da nossa bagagem pessoal, dos valores e crenças que possuímos e que incidem diretamente sob nosso olhar. É quase uma normatização, um dizer-como-a-realidade-deveria-ser, e usamos cada oportunidade de decisão para forçar nossa perspectiva de alguma forma na vida prática. E isso afeta os negócios. O verdadeiro truque de uma boa decisão, portanto, é se distanciar das nossas teorias e hipóteses a respeito das características da realidade e verdadeiramente ouvir o que ela tem a dizer, de preferência de olhos bem abertos. A ASTROFÍSICA Em Novembro de 2015 a Associação Aventura de Construir ofereceu mais uma capacitação como faz mensalmente na Lapa de Baixo. O público é sempre composto por microempreendedores da região Noroeste da cidade, de bairros pobres e periféricos. Para comparecer só custa o valor da passagem para chegar ao local. O diferencial deste pequeno curso de duas horas foi trazer o professor Jorge Luis Melendez Moreno, do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo. Neste dia o professor Melendez explicou sua pesquisa científica à procura de um sistema solar com similaridades ao nosso, pois assim seria mais fácil encontrar um planeta como a Terra. O método consiste em utilizar telescópios para olhar feixes de luz que vem de estrelas longínquas do universo de forma a procurar por planetas, os quais não emitem luz própria e são quase invisíveis. Analisando os feixes é possível afirmar se há algum corpo estelar gravitando um sol e é dessa forma que se encontram novos planetas e sistemas solares possivelmente iguais ao nosso. Inclusive o professor contou sobre como mudou sua hipótese inicial de procura – e a ajustou diante dos primeiros resultados conflitantes. MAS E OS NEGÓCIOS? Por que microempreendedores de baixa renda fechariam as portas dos seus negócios mais cedo e gastariam o valor da tarifa do transporte público para comparecer a uma palestra de um cientista que estuda os astros? Para escutar do professor Melendez e da Aventura de Construir como a abordagem científica é a mesma que qualquer empreendedor deve ter em suas decisões de negócios: enxergar os indícios da realidade observável e se deixar impactar pelas mensagens. Esse é o método de trabalho que permite ampliar a razão diante da realidade, além de forçar as barreiras das nossas próprias ideias. É apenas olhando as pistas que a realidade te oferece que conseguimos chegar aos nossos objetivos, como o professor Melendez. Outro bom exemplo é o de Alexander Flaming, que descobriu a penicilina quando estudou uma placa de bactérias que havia esquecido em seu laboratório por semanas ao invés de descarta-la. Esse “como trabalhar” invariavelmente implica em ser humilde diante dos fatos, seguindo as pistas dadas e readequando sua trajetória quando necessário. Nenhum empreendedor deve tomar nada do que faz como óbvio. Cada situação desafiadora contém as respostas de sua superação. O cientista francês Louis Pasteur já dizia que o acaso só favorece as pessoas preparadas e requer observação. REALIDADE, NA PRÁTICA Recentemente fui a uma cafeteria, onde teria uma reunião com outras três pessoas. Depois que me sentei, reparei que o wi-fi do local havia sido bloqueado e as tomadas das mesas retiradas. Perguntei ao atendente do caixa o porquê das mudanças para ouvir um sonoro “porque as pessoas passavam tempo demais aqui dentro”. Eis aqui a primeira cafeteria que quer moldar as necessidades dos clientes e que nega o fato que as pessoas precisam fazer reuniões corriqueiras com internet, tomada e um gostoso café. Já nos bairros periféricos da zona Noroeste, ofereço consultoria a uma cabelereira especializada em cortes de homens jovens e que procurava uma maneira de cativar seus clientes. Ela perguntou a seu público o que eles achariam positivo que ela oferecesse. Após as respostas, ela tirou a senha do seu wi-fi, passou a disponibilizar videogames antigos e vender cerveja aos maiores de idade. Apenas ações simples, que atendem necessidades de clientes, de baixo custo e que trazem retorno financeiro. Eis aqui a primeira cabelereira de cortes jovens masculinos do Morro Doce que oferece também um espaço de convivência – tudo por extrair da realidade as próprias respostas. Longe de pregar a infalibilidade de qualquer método, o que quero ressaltar é que existem maneiras mais apropriadas de responder aos nossos desafios. Uns chamam isto de criatividade, de originalidade, de olhar atento, de olhar os detalhes, de olhar o todo. Eu chamo da junção de provocação e humildade para questionar a si. Silvia Caironi

  • 10 dicas para a Avaliação de Impacto do seu projeto social

    Você não dirigiria o seu carro sem o painel de controle, não é? Do mesmo modo você não dirigiria o seu programa social sem entender se as suas ações estão melhorando a vida do seu público alvo. Simples assim, essa é a razão pela qual cada dia mais se fala de Avaliação de Impacto. Não é só medir quantos livros foram distribuídos ou horas de aula ministradas em uma iniciativa de apoio, mas medir quanto recuou o analfabetismo na região, e se recuou devido ao programa ou por outras causas. Um programa de avaliação de impacto aumenta fortemente a transparência dos projetos sociais, mostrando se os recursos de fato ajudam os destinatários ou se servem apenas para a auto conservação da organização pública ou privada que os gerencia. Para a realidade do terceiro setor isso está se tornando fundamental mesmo para a arrecadação de fundos e a sustentabilidade do projeto. Um estudo recente sobre filantropia na América Latina feito pelo Hauser Institute da Harvard Kennedy School monstra claramente que, com o foco passando da caridade para a mudança, muitos recursos são disponibilizados só com a presença de planos que possam evidenciar quantitativamente os resultados a ser alcançados. Implementar esses planos não é, porém, nem fácil nem barato. ONGs e órgãos públicos normalmente não tem as competências estatísticas necessárias e os recursos para a coleta dos dados. A Associação Aventura de Construir é uma realidade pequena, mas obcecada em realizar uma melhoria real na vida dos microempreendedores de baixa renda das periferias de São Paulo (por enquanto), agindo com o máximo profissionalismo, realismo e parcimônia. Começamos o nosso trabalho em 2012 com um questionário envolvendo cerca 150 indivíduos para entender as principais exigências não atendidas, desde o início registramos todos os contatos com o público alvo para poder chegar a indicadores gerenciais (“Quantas pessoas participaram das nossas palestras? Quantos participaram uma, duas, três vezes?” “Quantos receberam uma consultoria individual?”), e – depois da primeira fase de start-up – começamos seis meses atrás o nosso programa de avaliação de impacto, definido com a ajuda da Kellogg Institute da Notre Dame University, da ALTIS, da Universidade Católica de Milão, e da Comunitas de São Paulo. Para mais informações sobre o nosso programa de avaliação de impacto, leia aqui. Foi um caminho desafiante, e gostaríamos oferecer algumas poucas dicas para facilitar quem está considerando começar agora: Pense bem se você quer fazer: nós gastamos 9 meses/homem para definir e fazer a pesquisa de linha de base, mais duas semanas homem cada 6 meses para reaplicar o questionário a 70 sujeitos impactados do nosso trabalho e a 40 empreendedores do grupo de controle. Se quer fazer, contrate um estatístico: mais cedo ou mas tarde você vai pedir sua ajuda, e pode ser tarde demais. O estatístico é fundamental para definir o que e como medir, não só na analise dos dados coletados. Contratando ou não um estatístico, leia “Avaliação de Impacto na Prática“. É gratuito, é em português, é feito pelo Banco Mundial, é simples e explica os fundamentos que até gerentes podem entender. Na medida do possível, defina os seus processos antes: como lidar com valores extremos (outliers)? Como substituir sujeitos que saem dos grupos de pessoas de impacto e de controle? Se você reage ao longo do caminho, a tentação de adaptar as regras aos resultados desejados é forte, e avaliadores externos sempre vão suspeita-lo. Cuidado com os fatores de confusão: se as receitas melhoram pode ser devido ao trabalho de vocês ou pela melhoria geral da economia. Sem um grupo de controle bem escolhido nem vale a pena fazer avaliação de impacto. Não poupe recursos na coleta de dados inicial (a linha de base): sem conhecer o ponto de partida é impossível medir progresso. Nas perguntas e no número de entrevistados é melhor errar por excesso: você sempre vai descobrir coisas inesperadas. Na avaliação periódica seja gentil com os seus entrevistados: nessa fase limite ao máximo as perguntas. Roubar mais que 5 minutos para responder é má educação, e aumenta o número de quem sai da pesquisa (e isso vai afetar a qualidade dos seus resultados). Faça perguntas simples e com respostas objetivas: não “Você gosta ler?” mas “Quantos livros você leu no último mês?” Considere um período de warm-up: no começo haverá muitos problemas inesperados (na coleta, na elaboração, na interpretação) que devem ser acertados antes de produzir resultados comparáveis. Nós realizamos 3 levantamentos testes com intervalo de três meses antes de considerar o programa consolidado. Na análise, não espere dos números mais do que eles podem oferecer: “Não tudo o que é importante pode ser medido, e nem tudo o que pode ser medido é importante”: o objetivo da medição de impacto é relatar causa e efeito. Os números não podem fazer isso: podem provar ou desaprovar uma hipótese, nunca criar uma do zero, então não se esqueça de ficar atento ao seu público e coletar informações qualitativas. Eles ajudarão o seu “insight”. a primeira coisa que se aprende no ensino técnico é que cada medida tem erros. Vale para medir pedras, imagina para respostas de humanos! cuidado com as médias: antes de tirar conclusões dê uma boa olhada em todos os pontos. Um valor anormal (ou um erro de transcrição!) ou as médias podem contar uma história completamente diferente da realidade. Última nota: Goodhart, um economista inglês, virou famoso pela sua lei: “Quando uma medida vira um objetivo, cessa de ser uma boa medida”. Com toda a pressão sobre os resultados, se corre o risco de agir – conscientemente ou não – em prol da melhoria dos indicadores, e não para o bem estar do público alvo. Ética é também lembrar que os números descrevem a realidade, mas nunca podem tomar o seu lugar. Silvia Caironi

  • Microempreendedores e mindset anticrise

    Nesse período de crise econômica, o efeito nos microempreendedores com os quais trabalhamos não pode ser ignorado. Afinal, a renda dos microempreendedores individuais caiu 20% entre abril de 2015 e 2016 na cidade de São Paulo, segundo a pesquisa Indicadores Sebrae-SP. Esses números se materializam em uma perda de brilhos nos olhos nas pessoas: nas visitas que fazemos vemos que muitos estão inertes, como se estivessem apenas esperando a crise passar, sem ideias e projetos novos. Diante das dificuldades da tal crise, como responder às novas necessidades dos empreendedores? Se todos estão blasé, como acender a caldeira da locomotiva que são essas pessoas trabalhadoras? Se estão fechados em si, como fazer para abrirem-se? Como fazer uma barreira virar uma alavanca? Em um mercado que se contrai a situação parece incontornável quando fazemos estas perguntas. Mas é nessas horas que se deve ouvir os conselhos dos mais experientes. Um desses conselhos, de um integrante da diretoria da nossa instituição, foi: “… em tempos de dificuldade é importante voltar às origens”. Relembramos o que já sabíamos: a origem da Aventura de Construir é responder a necessidades concretas do nosso público alvo, e o fazemos por meio de ações que possibilitem que o empreendedor seja o principal agente de sua própria mudança. Vale também citar uma frase do filósofo Reinhold Niebuhr “Não há pior resposta do que aquela a uma pergunta que não foi feita”. Com isso em mente, as respostas agora estão mais próximas! Para superar a inércia gerada pela crise econômica o ponto central se torna fazer emergir as inquietações presentes dentro dos empreendedores, pois só interagindo com a realidade é possível reagir dentro de sua atividade produtiva. Ou seja, apenas por despertar a vontade de levantar a sua empresa é possível superar a crise. Abrir a si a novas situações, se adequar a elas e encontrar as possibilidades é que faz o empreendedor ultrapassar as dificuldades do momento. Possibilidades estas que podem ser de mercado, como oferecer um produto novo ou trabalhar em novas parcerias, mas também de própria estrutura interna da empresa, como aproveitar o tempo livre dos funcionários para estruturar melhor as funções e atividades de cada um. Aprofundando quem somos foi possível dar um passo a frente no trabalho que desenvolvemos com os microempreendedores: é no trabalho homem a homem e aprofundando a situação de cada um deles que foi possível encontrar as novas fronteiras de cada situação. É assim que propomos soluções diferentes, simples e inovadoras. É sempre diante de dificuldades que se encontra um novo caminho, que leva a novas dificuldades para encontrar novos caminhos. Com esta bola de neve se constrói o trabalho cotidiano e se alcançam novos horizontes, mas para os quais é importante estar abertos e positivos. Termino este post com uma frase que li em um restaurante onde almoço muitas vezes: em uma “placa” de pano bordada à mão contém alegremente os dizeres “Sim, eu ouvi falar da crise, mas decidi que eu e minha empresa não vamos participar”. Aqui, o desafio vira oportunidade. Silvia Caironi Silvia Caironi

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