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Oportunidades que não chegam às periferias sociais e a busca por soluções



O que diferencia um empreendedor famoso (seja Bill Gates da Microsoft ou Luiza Trajano da Magazine Luiza, etc.) de quem empreende na periferia – talvez com uma barraca na praça ou um salão de beleza em casa? Mais precisamente, de onde surgiram essas diferenças?


Na área de desenvolvimento econômico, é comum classificar os empreendedores em dois grupos: por necessidade e por oportunidade. De modo geral, o empreendedor por necessidade é o que começou pela falta de recursos. Talvez tenha estado desempregado, ou ganhando pouco, ou em condições de trabalho precárias. Por outro lado, o empreendedor por oportunidade é o que começou exatamente pela abundância de recursos – educacionais, emocionais, socioestruturais, e financeiros.


Em outras palavras, a diferença entre o Bill Gates e a vizinha que se tornou microempreendedora ao abrir uma mercearia em casa por necessidade é o acesso de cada um deles aos recursos necessários.


A microempreendedora utilizou dinheiro do próprio bolso para comprar um pequeno estoque inicial. Entretanto, o Bill Gates tinha acesso a recursos externos necessários para lançar a Microsoft já em um outro patamar, sem pôr em jogo a sua sobrevivência. Além disso, enquanto a microempreendedora teve que começar já na correria para gerar receita sem perder tempo organizando o negócio da forma mais eficiente, o Bill Gates teve acompanhamento e mentoria constante, o orientando em como gerenciar uma empresa escalável.


Fundamentalmente, o acesso a recursos define o nível de risco-retorno ao qual o empreendedor consegue operar. Os recursos protegeram o Bill Gates ao assumir riscos no negócio para gerar mais retorno, sem ter muito a perder pessoalmente. De forma contrária, a falta de recursos restringe a microempreendedora e a deixa exposta, pois assumir risco no seu negócio sem proteção socioeconômica pode trazer danos graves para ela, sua família, e até sua comunidade.


Apesar desta fala sobre escassez, vivemos em uma época na história do mundo na qual os recursos estão mais abundantes do que nunca. Contudo, elas continuam acessíveis para apenas certos segmentos socioeconômicos da população – no 27o andar em um prédio na Faria Lima, sim, na comunidade periférica da microempreendedora, não.


Além da injustiça desta realidade, a desigualdade de acesso gera um custo econômico muito alto também. Os empreendimentos por necessidade representam pelo menos metade de todos os negócios no Brasil, trazendo emprego para milhões de pessoas, principalmente nas comunidades periféricas. Então, a vulnerabilidade desses negócios pela falta de recursos deixa o Brasil mais vulnerável como todo.


Em teoria, a resolução é simples: trazer recursos à periferia. Porém, a logística desta resolução não é. Estabelecer esse acesso necessita canais entre os empreendedores incrivelmente talentosos das periferias e as fontes de recursos.


Podem-se classificar esses recursos em duas categorias principais: de capacitação e de produção. Recursos de capacitação incluem educação, assessoria, e suporte. Estes recursos garantem que os empreendedores tenham todo o conhecimento para empreender de uma forma eficiente e produtiva e uma rede de suporte para superar os desafios a vir. Aulas de educação financeira e empreendedorismo, assessoria pessoal por mentores ou ONGs, e coletivos de empreendedores comunitários representam ótimas soluções para disponibilizar esses recursos de capacitação.


Além de capacitação, temos que disponibilizar os recursos de produção também. Estes recursos geralmente incluem os equipamentos, a mão de obra, e as matérias-primas dos quais o empreendedor precisa para fazer seu trabalho. No final, a solução mais eficiente para melhorar o acesso aos recursos de produção é o investimento nos empreendimentos. Fomentar esse investimento nas periferias, necessita uma capacidade de descobrir e avaliar os negócios.


Desses canais, porém, existem poucos. É por isso que nós na Crédito Social desenvolvemos soluções de transformação digital para microempreendedores. Vemos diretamente como essa transformação digital facilita inerentemente canais de comunicação e distribuição de recursos para crescimento econômico nas periferias. Observamos como a digitalização também possibilita uma tomada de decisão baseada em dados quase automaticamente. Particularmente pela visualização dos dados digitalizados, os empreendedores conseguem enxergar seu negócio com uma visão mais clara e, dessa forma, tomar decisões mais informadas também. Recentemente, começamos a oferecer um curso gratuito chamado “O Poder da Visualização de Dados para Empreendedores”.


Desde maio de 2022, a Aventura de Construir oferece um exemplo de solução única para trazer os recursos à periferia, tanto de capacitação quanto de produção. Seu projeto “ProtaganizAqui – Aprendendo a Empreender” disponibiliza formação em empreendedorismo e capital semente especificamente para migrantes microempreendedores latino-americanos no Brasil. Fundada pela Silvia Caironi, a Aventura de Construir é uma organização sem fins lucrativos que fomenta oportunidade econômica na zona oeste de São Paulo através da educação financeira e acompanhamento para microempreendedores da comunidade. Voltado para uma população especialmente vulnerável, o ProtaganizAqui ultrapassa esse desafio logístico e traz diretamente os recursos de capacitação e produção. Os empreendedores recebem educação e assessoria nos seus negócios e formam uma rede forte de suporte entre si. Ao se formarem, recebem um capital semente para crescer seu negócio. Assim, ganham acesso aos recursos não só de produção, mas de capacitação também para tomarem as decisões certas na aplicação de capital de forma produtiva e estarem prontos para as oportunidades a vir.


Pessoalmente, após vários anos trabalhando nas comunidades periféricas do Brasil, o ProtaganizAqui me inspira e me dá muita esperança. É um exemplo claro de como a solução é agir, é acompanhar, é ir lá e dar esses recursos para que mais ninguém precise ser empreendedor por apenas necessidade.


Nathaniel Lawrence é economista, CEO e co-fundador da Crédito Social, formado pela Columbia University e Brown University nos Estados Unidos e pela Université Paris-Panthéon-Assas na França. Foi pesquisador no Núcleo Interdisciplinar de Educação Financeira na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).


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