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Da experiência, Novas oportunidades. Entrevista com Gisela Solymos.




Em janeiro deste ano, foi realizado em Davos, na Suíça, o 54° Encontro Anual do Fórum Econômico Mundial, que abordou diversos temas relevantes como Inteligência Artificial, Alterações Climáticas e o Trabalho. Sob o lema "Reconstruindo Confiança", o evento visa estimular a cooperação internacional de diferentes setores, em prol de alcançar objetivos globais como os ODS.


Estar atento a esse ecossistema proporciona a uma organização enxergar oportunidades e aberturas, para que possa adaptar todas essas mudanças na realidade em que atua. Como fala o 5º ponto do método de trabalho da Aventura de Construir, devemos ter uma visão global e uma atuação local.


Nessa lógica, o Blog AdC de hoje conversou com Gisela Solymos, doutora em Psicologia, cofundadora do Catalyst 2030, chair do Catalyst 2030 Brasil e cofundadora do CREN. Gisela esteve presente em Davos e traz as experiências e aprendizados que surgiram através dessas reflexões.


Confira a entrevista abaixo. 


Aventura de Construir: Gisela, nos conte sobre você, sobre os cargos e papéis que você exerce.


Gisela Solymos: Ultimamente tenho me apresentado como empreendedora social, mas sou psicóloga de formação e me interesso muito pelo ser humano e por pessoas em situação de vulnerabilidade. A partir disso, fiz mestrado e doutorado nessas áreas. 


Durante a vida toda trabalhei com projetos de intervenção social na área de desnutrição e pobreza. Sou cofundadora de uma organização chamada CREN (Centro de Recuperação e Educação Nutricional) que no ano passado completou 30 anos de existência e que teve, e ainda tem, um papel muito importante em entender o problema da desnutrição e como enfrentá-la. 


Como a desnutrição é apenas a ponta de um iceberg chamado pobreza, eu comecei a me interessar muito por essa área e comecei a fazer vários projetos para enfrentar esse desafio.  


Além disso também sou cofundadora do Catalyst 2030, um movimento global de empreendedores sociais que tem como objetivo criar abordagens inovadoras para acelerar a implementação dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), promover a colaboração e enfrentar as travas no ecossistema que dificultam que essa agenda avance. 



AdC: Neste ano você esteve presente no Fórum Econômico Mundial em Davos. Qual é o seu papel participando do fórum e qual a importância dessa atuação conjunta?


Gisela: Essa é a segunda vez que eu vou. Em 2011/2012 eu ganhei o prêmio “Empreendedor Social do Ano” que é organizado pela Fundação Schwab. Klaus Schwab, um dos fundadores, é também quem iniciou o Fórum Econômico Mundial.


Ao receber esse prêmio, eu comecei a fazer parte do que eles chamam de “Comunidade”, que é um grupo com esses empreendedores sociais do mundo inteiro, com acesso a diversas oportunidades, como por exemplo participar do Fórum.


Eles sempre convidam membros dessa Comunidade para colaborarem em momento diferentes, e eu fui convidada a participar desta edição por estar junto ao movimento global Catalyst 2030, especialmente pela minha participação como líder no Brasil.


Também no ano passado junto com o Fórum Econômico Mundial e o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) lançamos um relatório chamado “Desbloqueando a economia social” em Brasília, elaborado pelo Fórum e traduzido para o português e adaptado à realidade brasileira por nós.


Ou seja, toda essa atuação em conjunto traz diversos fatores de Inovação e Impacto Social. São pessoas que em diferentes situações estão trabalhando em conjunto para desenvolverem uma contribuição maior na construção do bem comum. 



AdC: Que pontos você destacaria desta edição do fórum, de uma forma geral, e dentro do tema de negócios de impacto?


Gisela: Em relação a primeira vez que fui, em 2015, eu destacaria uma maior abertura aos temais sociais em toda a programação.


Na minha primeira experiência percebi que havia diversas interações com outros grupos (grandes empresas, por exemplo) mas as pautas não evoluíam, justamente pela diferença entre os interesses dos empresários e dos empreendedores sociais. As ideias não avançavam. 


Já na minha participação no 54º encontro, a pauta social mostrou-se cada vez mais entrelaçada com as empresas e com os governos, eles percebem que existe uma necessidade em dialogar com os empreendedores sociais. 


É possível notar que as empresas estão entendendo que gerar valor não é sobre o produto que ela produz, mas sim a forma como ela produz e como ela impacta o local que está presente. Como isso incide no bom desempenho mundial. E a melhor forma de aprender a fazer isso é com quem já faz há muito tempo, ou com quem vê quem sofre com isso a muito tempo. 



AdC: Em algumas metas globais como o ODS 13, que fala das ações contra as mudanças climáticas, é mais evidente a importância e a necessidade de uma cooperação internacional em prol deste objetivo. Mas em outros casos como o ODS 8, que fala sobre trabalho decente e crescimento econômico, como um evento multilateral, multinacional como o Fórum Econômico Mundial pode contribuir com este tema em cada país?


Gisela: O trabalho decente foi um dos temas verticais que foram discutidos, em paralelo com o tema da Inteligência Artificial e as mudanças no modelo de trabalho a partir dela. 


Mas uma das questões que as empresas falaram, e que eu nunca tinha visto ser dita com tanta clareza no Fórum (principalmente como preocupação geral) foi: precisamos investir nas pessoas, ressaltando o capital humano e trazendo a importância em investir em diversas habilidades. 


Todos os dias haviam mesas discutindo sobre o acesso ao trabalho. É um tema super atual e existe uma preocupação gigante sobre ele. 


Certamente existe muita oportunidade para uma organização como Aventura de Construir em pensar e até oferecer para empresas capacitações para qualificarem seu RH, com o foco na interação humana, habilidade social e capacidade criativa.


Por exemplo, uma das tendências mundiais é que em 2027, 44% dos core skills dos trabalhadores vão estar comprometidos. A tecnologia está se movendo mais rápido do que as companhias podem desenhar e escalar os seus programas de treinamento. Então isso se torna uma preocupação, como vai ficar o mercado de trabalho e como ajudar os trabalhadores nessa transição.



AdC: Na Aventura de Construir nós falamos bastante sobre visão global e atuação local. Mas na sua opinião, o que o Fórum pode trazer para o Brasil, para as periferias brasileiras e para os negócios de impacto social?


Gisela: Primeiro, eu diria que a presença brasileira foi enorme no 54º encontro. Em 2015 não tinha absolutamente ninguém, o Brasil pouco considerava o Fórum Econômico Mundial. Talvez essa maior presença agora tenha a ver com a abertura do atual presidente para o exterior.


Destacam-se também os grandes temas tratados, que foram Inteligência Artificial, Trabalho e Mudanças Climáticas, principalmente. Pelo fato de que boa parte da Amazônia pertence ao Brasil, quando o tema surgia as atenções eram para o nós, e para Marina Silva (Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas) que passava informações sobre o trabalho desenvolvido. 


Mas o que isso tudo tem a ver com a nossa periferia? Na minha percepção, o primeiro ponto importante é o fato de que o IBGE não chama mais as favelas de assentamentos subnormais mas sim de favela e comunidades, ou seja, reconhecendo uma realidade, e é um passo gigante porque há 30 anos atrás a favela era uma mancha verde no mapa, não reconhecida como uma área habitável. 


E em segundo lugar, percebo que existe essa oportunidade para a Aventura de Construir, estando presente nessa realidade, pensar como as empresas podem contribuir e fazer essa ponte, pois existe uma abertura e um desejo das organizações em conectar oportunidades de treinamento, capacitação, conhecimento e levar para as comunidades. 


Pensando no trabalho que a Aventura de Construir desenvolve e na necessidade que existe (e que poucas pessoas fazem), devemos pensar em como construir essas pontes entre a população e as oportunidades que grandes players, como enormes corporações, estão querendo entregar (empregos, conhecimento, capacitações) e não conseguem por não terem capilaridade. 


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