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Validando métodos de trabalho

A jornada de Sustentabilidade de abril compartilha a experiência que a AdC desenvolveu durante esse mês com o projeto Lamberti Transforma 2.

O projeto, feito em parceria com a indústria italiana Lamberti, visa atender microempreendedores da região de Nova Odessa/ SP, onde a empresa tem uma fábrica. Embora o público alvo do projeto sejam moradores da região, pessoas de outras cidades e Estados também estão participando, aumentando assim o aprendizado e compartilhamento de experiências a nível nacional.

Com todo apoio e confiança da Lamberti, a equipe AdC pôde analisar profundamente a experiência da 1ª versão do projeto, realizada em 2021, e unir os resultados obtidos com as novas demandas do cenário de 2022. Desta forma, foi possível experimentar novas abordagens para aprimorar o método de trabalho nesta 2ª versão do projeto!

A primeira mudança estrutural foi a quantidade de encontros: a edição de 2021 contou com quatro semanas de capacitações, enquanto a presente edição terá onze semanas. Isso possibilita o aprofundamento de assuntos identificados como mais complexos e também a introdução de novos temas, como por exemplo, logística.

Tendo sua primeira capacitação no dia 29 de março deste ano, o projeto se dedicou nas três semanas seguintes a realizar a pesquisa de linha de base, a fim de mapear as demandas e vícios dos participantes.

Encontro inaugural do projeto realizado no dia 22 de março na sede da Lamberti em Nova Odessa.

Feita essa breve introdução, gostaríamos de compartilhar a experiência que tivemos durante a realização das avaliações de linha de base junto aos empreendedores e como isso foi importante para conhecê-los, melhorar nossa intervenção e validar nosso método de trabalho.

Validando o método: três momentos

A validação de um método já é uma rotina de trabalho da AdC, como podemos ver abaixo em outros dois momentos que nos ajudaram a potencializar nossa intervenção junto aos microempreendedores.

Em agosto de 2021, a AdC, em parceria com a Catálise, realizou um teste de chatbot, isto é, um programa de computador que procura simular um ser humano na conversação com as pessoas. Foi testado, assim, um serviço de escuta via WhatsApp com 387 empreendedores de baixa renda.

A Catálise é uma startup de design participativo focada em transformar como se pensa e se faz políticas públicas e negócios de impacto social, procurando reconectar pessoas e governos em busca de políticas mais humanas por meio da colaboração e da tecnologia.

A pesquisa foi realizada tanto com empreendedores já atendidos pela AdC quanto novos, o que possibilitou um maior alcance atingindo diversas regiões do país. A formulação das perguntas no chatbot apresentou como objetivo entender a evolução, desafios e conquistas deste empreendedores focando em identificar as principais necessidades deste público.

A evolução da situação dos empreendedores é muito rápida. Por isso é necessário um mapeamento constante, pois só assim é possível criar respostas mais potentes e adequadas. Algumas das informações coletadas nos indicaram que:

  1. Apenas 5,4% do microempreendedores conseguem lucrar para pagar suas contas e poupar;

  2. 53,7% deles nunca ou raramente têm um planejamento financeiro organizado;

  3. 42,4% afirmam que nunca ou raramente separam suas contas pessoais das do seu negócio;

  4. As capacitações mais desejadas pelos respondentes são: utilização de redes sociais, melhoria de planejamento e mapeamento de mercado.

Os resultados foram publicados em artigo na revista Exame e podem ser consultados aqui. Partindo destes dados concretos, a equipe pode fundamentar mais o processo de formulação e execução dos projetos.

O segundo momento de reflexão sobre nosso método de trabalho aconteceu em março de 2022 durante dois Encontros de Articulação de Políticas Públicas realizados pelo Sebrae e pela Fundação Getúlio Vargas. Nesses dois encontros, a AdC foi convidada a compartilhar sua trajetória enquanto ONG que desenvolve trabalho junto a microempreendedores de baixa renda de periferia.

A equipe realizou uma sistematização profunda de temas e conteúdos a partir das experiências dos projetos de 2020 e 2021. O resultado foram duas apresentações que sintetizaram aspectos do trabalho e percepção acerca das demandas dos microempreendedores.

Por fim, nosso terceiro momento é foco do presente artigo: utilização da linha de base (questionário inicial, parte do sistema de Avaliação de Impacto da AdC) como diagnóstico que permite entender muito mais as exigências e necessidades do grupo de intervenção.

No atual projeto da Lamberti Transforma 2, o questionário de linha de base foi realizado como uma entrevista – permitindo realizar uma fotografia da situação atual do público e valorizando este processo. Mesmo para aqueles que respondem, é uma chance de refletir e encarar mais de perto o próprio contexto.

Assessoria online com Christiane Silva e Sandra Ruiz, que estão no processo de abrir uma consultoria para restaurantes. Abaixo, os consultores da AdC Lucas Faustino e Franklin Menezes.

Partindo da realidade para potencializar os resultados

Para se alcançar um objetivo é preciso seguir um caminho. Muitos são os caminhos que podem ser seguidos para alcançar um mesmo destino. A trajetória pode ocorrer de vários modos e quando se trata da vida de pessoas, precisamos nos ater ao melhor caminho a se seguir, ou seja, o melhor método de trabalho.

É por isso que a AdC, nesses dez anos de história, sempre enfatizou a necessidade de ter um método de trabalho.

Trabalhar com a linha de base no projeto Lamberti Transforma 2 permitiu à AdC entender as necessidades concretas de seus beneficiários, criando condições de mapear com mais profundidade sua realidade. Conhecer esta singularidade do público abriu portas para montar um plano de ação no projeto condizente com as respostas que eles procuram.

Na prática, isso significa que podemos, por exemplo, adaptar nosso plano de aulas. Um cronograma de aulas vivo, que vai se moldando às necessidades das pessoas, é muito melhor que um ensino mecânico. E ao conhecer de perto as pessoas que atendemos, temos ciência de como adaptar nossa didática para que os conteúdos sejam aplicados na prática.

Por exemplo, foi possível observar uma demanda para entender como funciona o processo de formalização do negócio por meio do MEI (Microempreendedor individual: figura jurídica no Brasil que trabalha por conta própria e que se legaliza como pequeno empresário).

Dos 40 entrevistados (até a data da publicação), 36,8% dos microempreendedores não possuem CNPJ e 13,2% não estavam em dia com os impostos. É nesse contexto que Hilda Almeida se encontra, confeiteira e moradora de São Bernardo do Campo: ela desconhece como o MEI pode ajudar na sua aposentadoria e ainda não se formalizou.

Tatiana Atanázio, empreendedora novaodessense, que começou recentemente a vender roupas, não sabe como emitir Notas Fiscais. Ou ainda Ivone, artesã, que fez recentemente o MEI e não sabe como pagar os impostos.

Além dessa questão sobre formalização, assuntos clássicos sobre empreendedorismo apareceram nas entrevistas. Muitos tem dúvidas sobre como precificar corretamente seu produto ou serviço. Outros não anotam ou não fazem distinção entre seus gastos e rendimentos pessoais ou profissionais.

E ainda há aqueles que não veem o dinheiro mesmo trabalhando muito ou têm dificuldades na relação com o cliente.

Assessoria realizada com (da esquerda para direita) Maria Aparecida, Vagner Pinheiro e  Luciana Padella, que gerenciam uma associação beneficente em Nova Odessa.

Por fim, as entrevistas surtiram efeito positivo no engajamento e interesse dos microempreendedores. Ao final das conversas, era perceptível a vontade de continuar o projeto e o bem estar que sentiam por perceberem que a AdC dava centralidade no protagonismo de cada um.

Mariana Nardi, moradora de Campinas/ SP e consultora Mary Kay, ao fim da entrevista, mencionou que “depois dessa nossa conversa, me senti importante”. “Vocês dão importância”, destaca.

Na mesma linha de raciocínio, Silmara Cristina, residente em São Paulo, em tom de agradecimento comenta que “tudo que vier de vocês vai ser muito bem vindo, vocês tem um trabalho muito bem estruturado”.

Assim, podemos reconhecer o seguinte: as entrevistas de linha de base dentro do projeto, além de permitir uma aproximação, possibilitou à AdC confirmar como continuar capacitando da melhor forma os empreendedores.

Em dez anos de experiência, a AdC foi capaz de acumular uma expertise imensa sobre a realidade dos microempreendedores de baixa renda de São Paulo e do Brasil. E seguiremos nessa jornada – cada vez mais atentos – em responder da forma mais adequada a estas realidades!

Afinal, para gerar protagonistas e acompanhá-los com qualidade, conhecer a realidade é crucial.

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