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Série Elos de Impacto: As histórias por trás dos empreendimentos que transformam

Desde a metade de março de 2020, a equipe da AdC passou a realizar suas atividades de forma remota em decorrência da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Mesmo com este novo cenário, os projetos, capacitações e assessorias não param! Um exemplo é o Fortalecendo em Rede, parceria entre a AdC e o Inovação em Cidadania Empresarial (ICE).

Para conhecer mais sobre a parceria e a história da Adriana Barros, da Editora ABarros, leia abaixo a matéria originalmente publicada no site do ICE.

Na primeira matéria da nova série do Boletim ICE, conheça a trajetória de Adriana Barros e Maíra da Costa, empreendedoras negras que em comum têm a vontade de realizar sonhos e ajudar pessoas.

O efeito da pandemia de Covid-19 sobre a realidade socioeconômica brasileira é enorme e está longe de terminar. Potenciais danos causados pela crise adquirem dimensões maiores diante da vulnerabilidade econômica e social dos mais de 13 milhões de brasileiros que vivem nas periferias de todo o país.

Por outro lado, é também nas periferias que tem emergido um movimento liderado por uma geração de empreendedores que unem potência de inovação, impacto e superação. Apoiar a capacidade desses atores de enfrentar os desafios socioeconômicos se torna ainda mais necessário e urgente tendo em vista esse cenário.

Entretanto, o apoio a negócios de impacto demanda tempo, investimentos financeiros, equipe qualificada e o engajamento de muitos atores, dentro e fora da organização. Os desafios, que já eram inúmeros e alvos da ação de investidores sociais, empresas e filantropos, ganharam ainda mais escala frente à pandemia.

A partir da escuta de organizações e empreendedores envolvidos nos diversos programas e ações do ICE, o Instituto identificou o risco de descontinuação da agenda estratégica de apoio aos negócios de impacto, seja porque as parcerias públicas e privadas começaram a ser suspensas com o redirecionamento de recursos ao combate à Covid, seja porque muitos empreendedores começaram a deixar os programas de incubação e aceleração por não terem recursos para manter sua participação.

A resposta do ICE aos efeitos da Covid-19 sobre o ecossistema de impacto está concentrada em organizações intermediárias, que são um dos focos de sua atuação desde 2015. A ação ganhou o nome de Elos de Impacto e aportou 725 mil reais em doze projetos, envolvendo cerca de 20 organizações intermediárias com alcance junto a quase mil empreendedores em todo o Brasil.

Somando-se a uma série de outras iniciativas criadas no âmbito do ecossistema brasileiro de impacto, a Elos de Impacto realizou ondas de apoio ativo, ou seja, a partir do mapeamento e escolha dos beneficiários, e também aportes por meio da chamada Elos de Impacto Incubação & Aceleração.

Efeito cascata

Por meio do apoio emergencial às organizações intermediárias, o objetivo do ICE foi fazer com que essa resposta também alcançasse os empreendedores, sobretudo os periféricos. “No âmbito dos empreendedores, identificamos que os mais impactados têm sido os de periferia, para quem ficar sem renda de uma hora para outra coloca em risco não só o negócio, como a própria sobrevivência das famílias”, explica Fernanda Bombardi, gerente executiva do ICE.

Duas dessas iniciativas, Fundo Volta por Cima e Aventura de Construir colecionam histórias de superação e impacto entre os empreendedores que puderam apoiar com a contribuição do ICE e outras organizações. Escolhemos duas delas para contar em detalhes. Confira.

Informação e comunicação vencendo o preconceito

O que uma criança autista tem a dizer? A resposta a essa questão está nos livros de Arthur Barros, que inspiraram sua mãe, Adriana Barros, a fundar a ABarros Editora.

À intenção de publicar os livros do filho, um adolescente autista, somou-se a possibilidade de dividir informações com famílias que, assim como ela, convivem com a condição em seu dia a dia.

“Quando o Arthur escreve um livro, ele quebra a maior das barreiras do autismo: a da comunicação. Aos onze anos, o Arthur já havia escrito dois livros. Hoje, aos 15, já são sete obras. Meu filho foi mudo por um tempo e hoje realiza palestras e cria histórias”, observa Adriana.

A empreendedora conta que durante o lançamento do primeiro livro, as pessoas a abordavam espantadas diante da possibilidade de uma pessoa autista escrever livros. “Vi ali a necessidade de dividir as informações que a minha família vinha acumulando. Foram mais de dois anos entrando e saindo de consultórios e laboratórios até ele ser diagnosticado”, lembra.

A vontade de ajudar outras famílias se transformou no projeto “Esperança de um mundo inclusivo”. A iniciativa conta com um grupo de profissionais de áreas diversas que realizam ciclos de palestras sobre o tema. Adriana conta que, com a pandemia, os eventos passaram a ser realizados de forma online.

“Para mim, o maior desafio está em adquirir todos os conhecimentos e habilidades necessários para empreender bem. Temos que entender de fluxo de caixa, planejamento estratégico, marketing e venda, conhecer o produto, aprender a lidar com o cliente. Eu poderia falar do desafio financeiro porque é claro que ele existe. A ABarros funciona em um computador na sala de casa cedido por uma empresa que nos apoia disponibilizando equipamentos e é claro que eu gostaria de um dia ter o meu próprio computador, mas esse conhecimento é o que vai fazer o negócio ir bem”, observa.

Com o isolamento social para conter a Covid-19, as vendas dos livros da editora, que aconteciam durante as palestras, foram bastante prejudicadas. “O número de palestras vinha crescendo, as pessoas estavam começando a conhecer melhor o nosso trabalho e a nos chamar nas escolas. Estávamos vendendo ingressos para o primeiro grande evento do grupo que contemplaria sete palestras no mesmo dia e as vendas foram a zero. Isso foi bem impactante”, lembra a empreendedora.

A ajuda veio da Aventura de Construir (AdC), uma das organizações apoiadas pela iniciativa Elos de Impacto, do ICE. A organização atua em prol da erradicação da pobreza por meio de ações diretas junto ao público das periferias de São Paulo, apoiando, capacitando e acompanhando microempreendedores desses territórios. Frente à pandemia, a AdC tem se dedicado a assessorar virtualmente os microempreendedores na busca por soluções concretas de acordo com cada realidade.

“Com a pandemia, eu encontrei na AdC um apoio crucial que me permitiu um estudo mais aprofundado para me tornar a empreendedora que eu almejo ser. Esse conhecimento e mais as mentorias e assessorias foram essenciais para migrarmos as palestras para o online. Hoje, as pessoas podem comprar a palestra por um preço mais acessível e, com isso, queremos alcançar as famílias que não têm condições de pagar uma consulta com um neurologista. Com o apoio da AdC pude continuar existindo como empreendedora, algo que não quero deixar de ser jamais”, afirma Adriana.

Silvia Caironi, presidente da Aventura de Construir, conta que durante as capacitações e assessorias, foi possível perceber que os empreendedores desenvolveram uma consciência ainda maior de suas necessidades.

“As mudanças realizadas para responder à crise deixaram de ser algo pontual, repercutindo positivamente na gestão dos empreendimentos e se tornando novos hábitos acompanhados do fortalecimento gerado pelos aportes emergenciais. O aporte do ICE por meio da iniciativa Elos de Impacto foi crucial para darmos continuidade às ações iniciadas com os empreendedores já no início da pandemia. O acompanhamento por meio das assessorias sempre foi um dos diferenciais da metodologia da AdC e se tornou ainda mais crucial nos últimos meses”, reflete.

Sustentabilidade e geração de emprego e renda para enfrentar a crise

Inclusão é a palavra que melhor define a Free Soul Food. Criada em 2016 por Maíra da Costa para atender à vontade da mãe, já aposentada, de abrir um negócio no ramo alimentício, a empresa foi pensada a partir de sua própria experiência com especificidades alimentares: ela intolerante à lactose e a mãe diabética e vegetariana.

O caminho do impacto social não precede a fundação da empresa, mas aconteceu a partir de escolhas feitas pela empreendedora, que inclui o uso integral dos alimentos para evitar desperdício e diminuir a geração de resíduos e a opção por comprar de pequenos produtores e contratar mulheres migrantes.

“Conhecemos a Domingas, uma angolana que vivia em situação de semiescravidão. Resolvemos contratá-la e foi a melhor coisa que aconteceu com a gente, tanto pelo aumento da produtividade, quanto pela inovação que ela trouxe com suas receitas e modos de preparo. E ainda pudemos ajudá-la a se integrar de fato à cidade, incentivando-a, por exemplo, a usar o transporte público, algo de que ela tinha bastante medo, o que a fazia andar quilômetros todos os dias”, conta a empreendedora.

Com faturamento dependendo da realização de eventos empresariais, a Free Soul Food é mais um empreendimento que teve que se reinventar. Com o apoio do Fundo Volta Por Cima, a empresa conseguiu finalizar a reforma da nova sede e começou a retomar as atividades recentemente.

“A ajuda do Fundo Volta por Cima foi importante tanto para essa retomada, como para nos dar ‘fôlego’ para continuarmos funcionando mesmo faturando menos, mas com a perspectiva de prolongar a vida da empresa”, celebra Maíra.

A iniciativa é do Banco Pérola e da Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia (ANIP) – composta por A Banca, Artemisia e FGVcenn – e foi criada para conceder empréstimos a juro zero, bem como acompanhamento, mentoria e consultoria pessoal a negócios de impacto periféricos.

A primeira rodada do Fundo arrecadou mais de um milhão de reais – 150 mil dos quais aportados pelo ICE – e apoiou 55 negócios que já tinham passado por algum programa da Artemisia e/ou da ANIP. 60% dos empreendimentos são de mulheres e 61,8% de pessoas pretas e pardas.

O empréstimo realizado aos negócios poderá ser pago em até doze parcelas sem juros, com carência de seis meses. À medida que os empréstimos forem pagos, o Fundo passa a ter a possibilidade de apoiar novos negócios.

Maure Pessanha, diretora-executiva da Artemisia, uma das organizações promotoras do Fundo Volta Por Cima, destaca que os empreendedores de impacto social têm transformado a forma de fazer negócios no Brasil.

“Esses empreendedores serão cada vez mais necessários para conter a escalada da pobreza e da escassez econômica no país durante e após a pandemia. Por isso, decidimos criar uma solução financeira que permita que eles continuem as próprias jornadas e possam permanecer como fonte de emprego e renda, gerando impacto e apoiando as economias locais em que atuam. Nesse sentido, o apoio do ICE foi muito importante, não só pela aposta na ideia e pelo recurso financeiro, mas também pelas mentorias e todo apoio da rede do ICE. Somos gratos pela confiança”, comenta Maure.

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