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ONGs: Impactos que vem de dentro e de fora

Em um momento como esse, que organizações da sociedade civil correm grande risco na própria continuidade, porque dependem do financiamento de outras instituições e empresas, e, ao mesmo tempo, são as que mais respondem às necessidades da população mais vulnerável, é crucial que compartilhemos esse artigo da AUPA. O objetivo é fazer entender o real impacto positivo que estas organizações da sociedade civil geram entre os mais necessitados.

“O que você pensa quando o assunto são as Organizações Não Governamentais, as ONGs, e o ecossistema de impacto? Apesar de serem constantemente associadas a reduções preconceituosas, tais organizações exercem um trabalho estratégico na busca por soluções socioambientais – afinal, costumam atuar em territórios específicos e em questões complexas.

Segundo a pesquisa “As Fundações Privadas e as Associações Sem Fins Lucrativos no Brasil – FASFIL”, divulgada em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve registro de 236.950 fundações privadas e associações sem fins lucrativos. No gráfico abaixo, é possível conferir a distribuição por classificação das entidades sem fins lucrativos, número de unidades locais e pessoal ocupado assalariado em 31 de dezembro de 2016. Você pode interagir com a visualização e fazer diferentes agrupamentos com os dados disponíveis nas chaves.

Seja nos centros ou nas periferias, o trabalho das ONGs junto às comunidades locais trata do diálogo e da solução a partir das urgências do território, uma atuação que vai além da responsabilidade social. Não por acaso, tais organizações desempenham importante função politica em busca de transformações que atinjam, sobretudo, a base da pirâmide socioeconômica.

Para se ter ideia deste papel social, o Instituto Doar premiou as 100 Melhores ONGs em 2019, com destaque a representantes também por área de atuação — veja a lista completa das organizações premiadas neste link. Na ocasião, a Associação Peter Pan foi eleita a melhor ONG do ano, em virtude de seu trabalho em prol da cura e da melhora de qualidade de vida de crianças e adolescentes portadores de câncer e suas famílias.

Ao mesmo tempo, em constrangimento ocorrido em novembro, o governo federal acusou ONGs e seus ativistas de envolvimento com os incêndios ocorridos em Santarém, no Pará. Tal fato gerou desconforto e crítica da opinião pública, devido à ausência de provas.

Quebrar preconceitos e agir em rede

Algumas empresas, ao lado de institutos e fundações, ajudam a compor o conjunto dos atores chamados de facilitadores no ecossistema de impacto. São as organizações intermediárias, que conectam, facilitam e certificam Organizações da Sociedade Civil (OSCs) sem geração de renda, OSCs com geração de renda, negócios de impacto e empresas comerciais, que demandam de capital. Essa conexão é feita com aqueles que podem ofertar capital, como o governo, as pessoas jurídicas e físicas, as fundações e as associações, os organismos nacionais de fomento, as instituições de finanças comunitárias e as organizações multilaterais de crédito. Tudo isso feito a partir de mecanismos, ou seja, modalidades e fluxos de capital com ou sem fins de lucro.

A Rede Temática do GIFE (Grupos de Institutos, Fundações e Empresas) é uma das principais articuladoras entre organizações intermediárias e suas ações no ecossistema de impacto. Além disso, a rede é referência no tema investimento social privado, precioso ao universo das OSCs e das ONGs. Há ainda o papel do Instituto Empresarial de Cidadania (ICE) também um dos principais entusiastas nesta ponte entre investimentos e negócios de impacto socioambiental. A cada dois anos, o ICE promove o Fórum Brasileiro de Finanças Sociais e Negócios de Impacto, por exemplo.

10º Encontro da Rede Temática de Negócios de Impacto Social. O diálogo ocorreu em outubro de 2019. Crédito da foto: Ivan Zumalde.

O Mapa das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) organizado e disponibilizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é um raio-x que permite contextualizar tais organizações – e, consequentemente, as ONGs. E vale a ressalva feita pelo Sebrae a respeito das siglas do setor:

“embora algumas ongs possam ser qualificadas como organização da sociedade civil de interesse público (oscip), pode-se dizer que toda oscip é uma ong, mas nem toda ong é uma oscip”.

O mapeamento feito pelo Ipea revela que das 781.921 OSCs existentes, 323.522 estão no Sudeste, ao passo que o Centro-Oeste conta com 63.154 OSCs. No Norte estão 55.870 OSCs, no Nordeste, 194.033, e no Sul, 145.315.

Intermediário especialista em ONGs: Phomenta

Dentro do ecossistema de impacto há empresas que apoiam líderes e empreendedores sociais à frente das ONGs. Um exemplo é a Phomenta, fundada em 2015, um negócio social especializado em ferramentas de inovação, empreendedorismo e gestão voltadas ao universo das ONGs. “A Phomenta enxerga essas organizações como empreendimentos sociais. Elas identificam um problema, o validam e trazem soluções por meio de serviços, a fim de resolverem alguma questão complexa e específica da sociedade”, explica Izadora Mattiello, cofundadora e presidente da empresa.

Segunda edição da Maratona de Aceleração Social, ação ocorrida na Semana do Carinho da Johnson&Johnson. A Phomenta acelerou 10 ONGs da área da saúde na ocasião. Fonte da imagem: Instagram Phomenta/@phomenta.

Contudo, o próprio termo intermediário traz suas fragilidades quando aplicado em um universo onde a todo momento tentam colar narrativas preconceituosas, como o das ONGs. “No Brasil, a palavra ‘intermediário’ não é muito acolhedora. Da mesma forma, o termo ‘ONG’ tem estigmas. As pessoas não sabem muito sobre o que é ser um intermediário, então é preciso educar futuros clientes e a sociedade por um todo”, diz Mattiello, sobre o entendimento da importância dessas instituições que fazem pontes também com os mundos corporativo, de inovação/startups e do Terceiro Setor.

E, definitivamente, a extinção das ONGs não é uma opção, por questões práticas e históricas na atuação social.

“se as ongs deixarem de existir, entraríamos em um caos, devido à sua importância na atuação e para a resolução de problemas sociais. não importa se distribui lucros ou não: o mais importante é que estas organizações estão resolvendo um problema que já foi validado”, explana mattiello.

Ela ainda complementa: “Não dá para falar de impacto social sem considerar o histórico e a experiência das ONGs. Afinal, elas são as verdadeiras especialistas em problemas socioambientais e sobre desigualdades”.

Desafios

E qual seria o desafio no que diz respeito à gestão de ONGs? A resposta talvez seja a mesma para qualquer empreendimento, sobretudo, o pequeno: priorização. “As pessoas têm dificuldade em saber o que priorizar. Ainda mais em ONGs, onde há uma causa muito forte e é difícil sair do técnico, que é apoiar, na ponta, o beneficiário. O desafio é ir mais para os bastidores, pensar estratégias e tomar decisões”, comenta Mattiello. Ainda dentro da estratégia de prioridade, destacam-se ações como saber falar “não”, hierarquizar as demandas, ser estratégico para atrair parceiros, pensar na parte financeira e ter visão de longo prazo.

Izadora Mattiello é cofundadora e presidente da Phomenta, negócio social especializado em ferramentas de inovação, empreendedorismo e gestão voltadas ao universo das ONGs. Fonte da foto: site da Phomenta.

Os saberes para atuar empreendendo, principalmente no setor de impacto socioambiental, vão além das formalidades acadêmicas – requerem também quilometragem, as vivências com erros e acertos.“Muitas ONGs vão pelo coração e pela causa técnica, social. Há ainda alguma falta de conhecimento e de ferramentas, que fomentam essa estrutura de não priorização na hora de estruturar”, explica Mattiello.

Não ser centralizador também é um dos desafios dentro da gestão das ONGs, afinal, é preciso que o empreendedor passe o conhecimento técnico a outras pessoas para que ele possa focar em pontos mais estratégicos para o negócio e que façam este ficar de pé. Neste aspecto, o papel da Phomenta é apresentar possibilidades de ferramentas aos empreendedores, promover consultorias individuais e ser a ponte que promoverá encontros presenciais entre as ONGs, para trocas de experiências. “A gente tenta facilitar a vida desse empreendedor para que, de certa forma, ele saiba priorizar, delegar e pensar de uma forma mais estratégica para que aquela ONG tenha um impacto social maior”, diz a presidente da Phomenta. Certamente, não há caminho solitário para quem está no ecossistema de impacto.”


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