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Liberdade é poder. Poder ser alguém na vida. Texto por Percival Caropreso

No Blog AdC desta semana, recuperamos um texto de Percival Caropreso, profissional de Marketing e Comunicação, há mais de 30 anos militando em causas socioambientais e membro do Conselho Consultivo da AdC. O artigo, escrito em 2001 mas ainda atual, evidencia a importância do acesso à oportunidade para todos, sobretudo os jovens. A verdadeira liberdade só existe quando todos têm chances. Confira!

A Ditadura Política nos tirou a liberdade durante anos. Perdemos tempo, dignidade, crescimento em todas as áreas, perdemos poder como cidadãos. Criamos gerações de crianças e jovens sem liberdade. Sem poder. Sem poder escolher, sem poder sonhar, sem poder ter acesso a oportunidades. Sem poder pensar, criar, construir, conseguir. Crianças, que hoje são brasileiros adultos. Reconquistamos a Democracia no Brasil e em nossas vidas. Saímos fortalecidos, diante da tarefa de recriar a liberdade, o acesso a oportunidades para todos.

Voltamos à Democracia Política, mas não nos livramos da outra Ditadura: a Social, perversidade histórica de cinco séculos, ainda mais fortalecida com os estragos estruturais e culturais produzidos ao longo de tantos anos de Ditadura Política.

A Ditadura Social é outro inferno. Também atinge a todos nós, afeta nossas vidas atuais e futuras. Tortura ou mata os poucos, que temos muito. Exila ou mata os muitos, que têm pouco ou nada.

Esta nossa Ditadura Social também nos faz perder tempo, dignidade, crescimento em todas as áreas. Porque também tira a liberdade de crianças e jovens. Continuamos criando gerações de brasileiros sem poder sonhar, sem perspectivas de ser alguém, porque negamos a eles acesso a oportunidades. Oportunidade é fator-chave, em tudo na vida.

Em Junho [de 2001, data de publicação do texto original], a Fundação Abrinq lançou a nova fase do Programa Prefeito Amigo da Criança, que visa exatamente influir para que as gestões municipais criem condições e oportunidades para os jovens. A McCann, minha equipe e eu desenvolvemos a campanha de comunicação.

O Programa Prefeito Amigo da Criança estimula candidatos a incluírem a Infância e a Adolescência como prioridade em suas plataformas de governo. Os eleitos passam a ser Prefeitos Amigos da Criança e são auditados: ao exercer suas administrações, eles têm que cumprir os objetivos e metas, indicadores e prazos assumidos na campanha eleitoral.

Neste final de mandato, 126 prefeitos de todo Brasil mereceram o reconhecimento pela exemplaridade, porque prometeram e cumpriram: honraram o compromisso de criar condições e oportunidades às crianças e jovens de suas cidades.

Oportunidade é fator-chave, em tudo na vida. Uma jovem negra de 19 anos, estudante de fotografia do SENAC em São Paulo, Colegial concluído na Inglaterra, foi acompanhar a sessão de fotos da campanha de comunicação para esse programa da Fundação Abrinq. Como estagiária, assistente de qualquer coisa, carregadora de equipamento, faz-tudo, o que pintasse.

Pintou o próprio trabalho de fotografar. As agendas mudaram na última hora e o fotógrafo, que faria o trabalho voluntariamente, não teve como conciliar compromissos já assumidos. E a jovem fotógrafa se saiu muito bem. Seu primeiro trabalho fotográfico ilustrou a nossa campanha em defesa dos direitos das crianças e adolescentes.

Não é todo dia que aparece uma oportunidade dessas na vida de uma jovem em início de carreira. Foi tudo uma questão de oportunidade, mesmo: a tal jovem estagiária foi uma criança adotada assim que nasceu. Além de carinho e amor, ela teve família e lar estáveis, segurança e proteção, acesso à saúde e educação. E teve liberdade: a liberdade de aprender, conhecer, desenvolver seu potencial. Portanto, pôde chegar aonde chegou. De que lado da câmera ela estaria, se não tivesse essas oportunidades na vida?

Essa jovem é um ato de subversão da ordem imposta pela Ditadura Social. O fato de o seu primeiro trabalho profissional ser exatamente para a defesa da causa de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, isso não é coincidência. É mais uma exemplar ironia do destino. Ou não. E motivo de orgulho: ela é minha filha Marina.

Percival Caropreso 2001

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