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AdC Entrevista: Vitones (Parte I)

Vitones é um artista de muitas faces, que ama grafite, a natureza, os bichos e filosofia! Nós convidamos ele para fazer essa arte linda aqui no portão da sede da Aventura de Construir e ainda ganhamos essa entrevista sobre seu trabalho!

Confira nosso papo na íntegra abaixo!

O que você pensava sobre a Aventura de Construir quando foi contatado pelo Wagner (um microempreendedor que acompanhamos há alguns anos) para fazer o grafite aqui? E como mudou a sua concepção depois de ter desenvolvido esse trabalho?

Primeiro eu tinha uma imagem muito abstrata, porque apesar de ter um segmento, abrange vários outros e parece que tudo é bem vindo. Fica difícil a gente limitar ou colocar em uma caixinha e eu achei isso maravilhoso porque eu não gosto muito de limites, de colocar rótulos pois quando você rotula, você acaba dando um limite para as coisas. Cultivar uma curiosidade que só ia ser sanada quando eu viesse para cá e visse com os meus próprios olhos o que é esse espaço e como vocês se relacionam aqui. O que mudou foi uma certeza das ações, da concretude, da gente conseguir realizar isso depois de alguns meses de conversa e agora também ver e viver como isso tem me afetado. Isso é maravilhoso!

Início do grafite.

Em que sentido te afetou?

No sentido de dar uma ativada em mim. Ano passado eu não trabalhei muito para outras pessoas, eu fiquei muito no meu ateliê fazendo coisas para mim. Vir aqui essa semana e todo esse processo ter acontecido, durante esse tempo e o que vem acontecendo, eu diria que me motivou, acendeu algo em mim que estava adormecido por não estar com tanta vontade de fazer para os outros. Eu me fechei muito no ano passado, eu fiquei pintando só pra mim. E poder estar em contato com pessoas que fazem pelos outros ativou algo em mim, de querer fazer pelos outros também, dentro das possibilidades, fazer algo voluntário, deixar de ser egoísta.

Como aconteceu o seu processo criativo?

Eu trabalho muito pintando animais, o que às vezes tem só um apelo estético, pois o animal é bonito, às vezes é por conta da cor da paleta, a cor da parede, tem vários fatores que influenciam isso. Mas aqui, por ser um lugar que tem um escopo, eu tentei sintetizar meu trabalho banhado por essas coisas. Para mim a etimologia da palavra é importante, como ela poderia ser representada de maneira gráfica. E eu também tento fugir do convencional e acredito que a ideia nessa busca foi muito feliz em ter encontrado essa relação com a formiga. Poderia ser qualquer coisa, mas tem que ter uma relação e acho que coube perfeitamente pois eu me deixo sentir. Muitos artistas já vem com tudo pronto, com uma rigidez, aí nós conversamos sobre as propostas e no final, o que mais fez sentido, sem dúvidas, foi o trabalho das formigas. Aí eu busquei referências que pudessem ilustrar melhor minha ideia e adequei ao espaço. Durante o processo, por mais que eu tenha moldado algo, sempre se altera ao decorrer do tempo: chuva ou sol, almoçar ou não. Mas eu fiquei bem satisfeito com o trabalho e dedicação.

Você apresentou duas propostas, mas porque você achou que as formigas pudessem emblematizar mais a AdC?

Diferente do João de Barro, que no máximo fica em casal, o que pegou mais foi o lance da construção. Antes de apresentar a ideia do João de Barro, eu tinha apresentado a ideia do capacete com bússola, algo que trouxesse a ideia de ter um caminho, uma trilha…construindo coisas nesses caminhos. Para mim também era uma ideia boa, mas aí fomos conversando e eu entendi que as formigas representam melhor este espaço: cada um tem uma função de segurar uma parte do galho e juntas seguram o galho inteiro, eu vi mais por esse sentido. Eu tento trazer representatividade nas coisas que eu faço: por mais que tenha um elemento, ele tem um porquê de sua existência.

As formigas têm uma representação que não é tanto individual. Aquilo que eu passei sobre o número 5, que tem a ver com toda a simbologia deste número, é o equilíbrio entre esses 5 elementos que faz a vida ser possível. Por isso representa muito equilíbrio das 5 formigas e fiquei feliz de não ter feito nenhuma igual, porque ninguém é igual a ninguém, nem mesmo as formigas.

E voltando ao número 5, ele é o algarismo que representa a estrela de 5 pontas, o pentagrama, a representação do Homem diante do Universo. O pentagrama tem o significado de evolução, de liberdade, do sentimento de aventura que leva ao crescimento pessoal e do universo. O número 5 representa, também, as viagens internas e externas, a versatilidade em pessoa. É um número de movimento, da velocidade, da agitação que acaba com qualquer estabilidade e limitação que venha pela frente. É um número transgressor, símbolo da evolução. O macro é representado pelo micro. E achei que podia dizer muito do que é a Aventura de Construir!

Essa simbologia do número 5, você procurou depois ou desde o início?

Para mim foi tudo muito convencional. Eu até poderia ter colocado mais formigas, mas aí eu percebi que tinha sentido deixar assim. Quando eu pintava com muita frequência, eu não tinha tempo de ficar digerindo o que estava fazendo, hoje para mim o tempo não é mais um impedimento. Eu me dedico muito na prática, naquele momento e para que aquilo tenha sentido pra mim. Eu não aceito qualquer trabalho, tem que ter algo que eu queira para mim, senão eu não faço. Eu trago os animais porque eles representam muito os humanos, eu vejo esses reflexos onde os animais são espelho da sociedade, ou vice-versa. Eles se refletem.

O que as formigas fazem no seu grafite?

Eu não sei se elas estão trabalhando ou brincando, porque tem uma em cima apontando para o alto, talvez seja a que está trabalhando menos enquanto as que estão embaixo estão movendo o galho. Tem a pessoa que é mais aérea, mais sonhadora, mais da terra… e aí é que está o equilíbrio. Ali naquele desenho eu fico dividido nisso, pois trabalho e diversão para mim é a mesma coisa e eu tento colocar os dois juntos para não pesar tanto, pois não dá pra ser tão divertido e nem tão trabalhoso.

O que você acha peculiar no trabalho do ser humano em respeito a uma representatividade? Você usou esta simbologia, entendemos que ela transcende a representativa gráfica que acontece nestas 5 formigas, porque nos sentimos um pouco limitados pensando que somos como uma formigas.

Eu vejo o ser humano como o supra sumo dos animais. Somos também uma formiga, um pássaro, uma onça… a gente transita entre os animais. E por ter essa metamorfose é só estabelecer uma relação, mas ela não se limita a isso pois de eterno é só a mudança. Uma hora você tá fazendo um trabalho de formiga, outra hora você vira uma águia para poder evoluir. Uma vez eu fiz o ciclo de vida da borboleta… A lagarta vai virar borboleta! E quando ela é lagarta, ela te queima. E tem formiga que voa, que ganha asa. Tem isso de entender que a gente está em trânsito.

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