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AdC Entrevista: Raquel Simão

Na entrevista de hoje, trouxemos um bate papo com Raquel Simão, responsável da área de Desenvolvimento de Projetos da Aventura de Construir desde 2019. Ela nos conta sobre sua história e o seu crescimento pessoal e profissional dentro da Instituição, além do novo projeto “Lamberti Transforma”, pensado para capacitar e acompanhar mulheres empreendedoras em Nova Odessa. Trata-se de um público muito afetado pela crise gerada pelo COVID e nós, em parceria com a Lamberti, queremos estar ao lado delas para gerar uma transformação que permita se reinventar neste momento! Confira abaixo o bate-papo que a AdC teve com ela.

Raquel, conte-nos um pouco de sua história com a AdC e de seu papel como líder do projeto “Lamberti Transforma” dentro da AdC

Entrei na Aventura de Construir em maio de 2019. Sou formada em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e no momento em que ingressei na AdC tive a oportunidade de unir o conhecimento técnico com a prática da realidade. O apoio e orientação da equipe foi e é fundamental para fortalecer o meu papel como coordenadora da Área de Desenvolvimento de Projeto. Entendo este processo como algo vivo e que a cada dia que passa pode ser aprofundado e melhorado. Hoje os meus desafios não são os mesmos de 2019, mas, é no processo da superação destas dificuldades que ganho fôlego e novas técnicas para enfrentar o que vem pela frente. Sempre levando em consideração a realidade de cada momento para identificar as reais necessidades dos beneficiários.

O 1º método de trabalho do AdC é “Partir da realidade” e o 2º é “Gerar protagonismo acreditando na centralidade da pessoa”. Silvia Caironi, presidente da AdC, realiza cotidianamente um intenso trabalho para que estes métodos sejam vivenciados dentro da instituição, no relacionamento entre equipe e beneficiários e, sobretudo, no desenho e implementação de um novo projeto. Ser linha de frente no projeto “Lamberti Transforma” é um enorme desafio no qual eu me lanço com profundidade, unindo as experiências concretas vivenciadas em outros projetos realizados pela AdC em 2020 com o frescor do que é novo e exige criatividade.

O meu papel e de minha equipe pode ser visto como algo muito simples: criar conteúdos, multiplicá-los, entrar em contato com as participantes, facilitar aulas, montar cronogramas, entre outras atividades. Mas existe algo sutil que venho aprendendo na AdC: despertar o interesse nas pessoas para que elas aproveitem ao máximo o projeto e consigam identificar suas reais necessidades e formas de superá-las. Eis, ao meu ver, um dos maiores e mais empolgantes desafios.

Como o contexto socioeconômico, percebido pela ONG através de seus membros e alunos, mudou durante a pandemia de COVID-19?

Desde março de 2020, passamos a realizar nossas atividades de forma remota em decorrência da pandemia de Covid-19. Para tal, adotamos a estratégia de realizar ligações individuais para conscientizar nosso público sobre a pandemia, buscando compreender a situação de vulnerabilidade de cada um para fornecer orientações sobre como seguir trabalhando diante deste cenário ou mesmo como buscar outras oportunidades de trabalho, sempre lembrando da importância do autocuidado e do fortalecimento da economia local.

Em abril de 2020, após a 1ª etapa de ligações e sistematização dos dados, contabilizamos que 46% dos empreendedores atendidos diziam ter recursos para se manterem por 3 meses e 23% que não conseguiriam passar mais de 15 dias com o orçamento disponível naquele momento. As orientações para enfrentar este cenário levou em consideração a realidade de cada beneficiário e os eixos de atuação foram:

1. Apoio técnico por meio de assessorias e capacitações on-line;

3. Apesar de não ser a área de atuação da AdC, o cenário exigiu novos movimentos e a equipe entrou em contato com o Banco de Alimentos, sendo contemplada com a doação de 500 vouchers compras no valor médio de R$ 110,00 para serem distribuídos entre a rede de beneficiários e indicações dos mesmos. Em dezembro de 2020, contabilizamos mais de 30 empreendedores envolvidos em iniciativas de captação de recursos, chegando a mais de R$200.000,00. Com os cartões disponibilizados pelo Banco de Alimentos, 500 famílias foram beneficiadas e 8 microempreendedores da AdC atuaram como multiplicadores em seus bairros, identificando o público em vulnerabilidade social, sistematizando planilhas, efetuando registros fotográficos e por fim, realizando a distribuição dos cartões. Entendemos que a atuação da AdC contribuiu para que os beneficiários criassem suas próprias condições para enfrentar a crise. Muitos hábitos positivos adquiridos neste momento foram incorporados na rotina de muitos, como a utilização de ferramentas tecnológicas para participar de capacitações e assessorias. Essa transição não foi simples e nem deveria ser, afinal, lidamos com pessoas. Por isso, a equipe AdC precisou de muita criatividade e flexibilidade para conseguir encontrar formas de estar atenta aos sinais também pelo virtual, assim como para desenvolver novas estratégias que garantissem a presença de um “outro olhar” dentro deste “outro normal”.

Neste contexto, por que decidiu-se trabalhar principalmente com mulheres?

Durante a etapa de idealização do projeto, foi colocado por parte da Lamberti a importância em se trabalhar com o público feminino. A AdC mais uma vez partiu da realidade e a examinou profundamente para entender os caminhos possíveis desta nova jornada. Para além da evidente desigualdade de gênero no mundo do trabalho, a pandemia de Covid-19 acentuou ainda mais a diferença entre homens e mulheres neste campo.

Conforme aponta o gráfico acima divulgado em matéria do G1 em outubro de 2020, um grande número de mulheres precisaram abrir mão de suas atividades profissionais para cuidar das crianças, as quais deixaram de frequentar creches e escolas. Na comparação, fica evidente como as mulheres foram mais afetadas em relação aos homens no 2° trimestre de 2020. Diante deste cenário, entendemos a necessidade ainda mais urgente em fornecer orientações para que mulheres possam realizar atividades empreendedoras partindo do uso da tecnologia e do universo digital nos próprios lares

Quais são os objetivos do curso que será oferecido no projeto “Lamberti Transforma” e os principais tópicos que serão abordados?

Desenvolver uma jornada híbrida de aprendizagem humana integral que prepare 50 mulheres microempreendedoras a usufruírem da realidade virtual, garantindo uma alfabetização em informática que seja eficaz e aplicável às ofertas de produtos e serviços num cenário de pandemia e pós-pandemia que nos impõe uma série de adaptações nos modelos de negócios e desafios para viver um “outro normal”.

Para entender os temas mais necessários neste cenário, estudamos os conteúdos dos projetos desenhados em 2020 com o seguinte olhar: sobre quais eixos temáticos o público apresentou suas maiores dúvidas e dificuldades?

Um dos métodos das capacitações da AdC é a Ficha de Avaliação: questionário (neste momento um Formulário Google) enviado ao término da semana de aula para avaliar a didática da equipe, mensurar as dificuldades do público e colher informações da realidade dos participantes para utilizar como ponto de partida das próximas aulas.

Sabemos que cada público apresenta suas necessidades, porém a análise realizada sobre as Fichas de Avaliação nos mostraram algumas tendências que orientaram o desenho dos temas para as capacitações do projeto “Lamberti Transforma” e são eles:

1. Tutorial de acesso ao Zoom;

2. Ferramentas de produtividade para gestão pessoal e do empreendimento;

3. Finanças e contabilidade

4. Presença digital: Redes sociais e Marketing.

Estes temas apresentam um desenho geral que será aprofundado posteriormente na etapa de assessorias (2ª etapa do projeto). Antes do início das aulas foi realizado um questionário com os inscritos para validar estas dificuldades e mensurá-las numa escala de 1 a 5, entendendo que 1 significa sem dificuldade e 5 muita dificuldade. Uma média de 50% dos inscritos responderam e compartilho alguns dados:

Mais de 60% dos participantes entendem que apresentam muita dificuldade sobre o tema de finanças e contabilidade;

Mais da metade dos participantes entendem que apresentam muita dificuldade sobre redes sociais e marketing;

A maioria dos participantes entendem que apresentam dificuldade média (3) sobre o tema de planejamento do negócio.

Estas ferramentas servem para auxiliar o desenho das aulas, mas o olhar permanece sempre atento. Se for necessário alguma adaptação, estaremos abertos. Garantir o alcance do objetivo do projeto é uma meta! Metas apresentam prazos e planejamento, mas entendo também que estão repletas de expectativas. A maior delas é, de fato, democratizar o uso das novas tecnologias, pois elas são as ferramentas capazes de gerar oportunidades de renda e emprego para um público que ainda tem acesso restrito a este tipo de conhecimento. Além disso, promover uma real mudança de mindset me parece algo importante para que os participantes desenvolvam uma atitude flexível, proativa, colaborativa e aberta a aprender. Queremos ao fim, ter concretamente alguns novos modelos de negócio. Para além disto, uma expectativa que permeia sempre o meu trabalho é a criação de vínculos de uma forma natural. E não apenas entre equipe e participantes, mas entre os próprios participantes. Acredito que o vínculo dentro de um espaço virtual é ainda mais desafiador de acontecer, mas quando surge, gera uma potência transformadora.

Outra expectativa que compartilho é que os participantes saiam do curso aprendendo a valorizar mais seus pequenos passos. Vivemos em um mundo em que muito se fala de metas inalcançáveis, mas estas só geram frustrações e nos paralisam. A partir da valorização dos pequenos passos, a força ganha forma e vamos além…

Haverá um acompanhamento d@s alun@s após o término das aulas? Como será feito? Sim! Após a etapa de tutoriais em informática e empreendedorismo, entramos na etapa de assessorias. Antes de falar propriamente sobre ela, acho importante contextualizar um pouco. Desde 2013, a AdC trabalha com uma metodologia 360⁰ própria de assessorias presenciais que contempla a cada beneficiário: primeiro o acesso ao universo do empreendedor com análise macro da realidade socioeconômica, incluindo os desafios e oportunidades. O “raio X” da pessoa é feito em paralelo com o do empreendimento. À medida que o vínculo é construído, se aprofunda mais. E para isto acontecer, é preciso exercitar a escuta ativa e atenta seguida por perguntas e orientações customizadas. Em meu entendimento, um dos pontos mais importantes para esta estrutura ganhar força e fazer sentido a partir das necessidades concretas dos beneficiários é o acompanhamento contínuo e autodiagnóstico.

Como já comentei, a transição do presencial para o on-line foi e ainda é um grande desafio. Para ultrapassar esta barreira do desconforto com a tecnologia, realizamos uma série de tutoriais específicos. O contato que antes, no presencial, era mais espaçado, foi se tornando mais frequente e intenso. Este formato garantiu um maior engajamento dos participantes e possibilitou um encurtamento das distâncias e a observação do universo do outro. Essa transição possibilitou a continuação do trabalho neste momento tão fundamental e garantiu a partir de uma experiência concreta, novas propostas, como o projeto “Lamberti Transforma”. Neste projeto, após os tutoriais, adentramos na segunda etapa do projeto: cada beneficiária receberá 3 assessorias personalizadas e individuais, sendo que a última etapa esperemos possa ocorrer presencialmente – etapa na qual também se realizará a preparação das participantes para prototipar modelos de negócio que sejam sustentáveis, gerando renda e trabalho. Será também a oportunidade para aprender a expor em lives e assim tornar possível o mecanismo de scale up do projeto para mais beneficiárias na região e em novos territórios.

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