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8 março: Dia internacional das Mulheres e as pequenas revoluções cotidianas

8 março: dia internacional das Mulheres e as pequenas revoluções cotidianas

Ao aproximar-se do 8 de março é frequente ouvir histórias de mulheres que se tornaram famosas pelas descobertas revolucionárias no campo da ciência, medicina, arte, tecnologia, negócios. Nós preferimos dar voz às mulheres comuns, “invisíveis” nas mídias, que conhecemos ao longo do nosso trabalho “um a um” com micro empreendedores e empreendedoras de baixa renda: mulheres como tantas que existem nas nossas imensas periferias urbanas. Sem muita noção disso, todos os dias elas realizam pequenas revoluções.

Exemplos de mulheres empreendedoras

Lucicleide é moradora de uma região periférica de São Paulo. Tem uma pequena loja de variedades no andar térreo da própria casa. A vida dela se divide entre o cuidado do negócio e da casa, onde vive com o marido e dois filhos adolescentes. Recentemente, a irmã faleceu e ela teve que passar um tempo fora da Capital. O marido dela ficou desempregado durante um ano e só voltou a trabalhar recentemente, com o salário cortado pela metade. Durante este tempo, ela sustentou a família inteira com a renda do comércio. Para conseguir manter a loja aberta, ela reorganizou a própria vida profissional e familiar: hoje em dia, em casa de Lucicleide as tarefas domésticas são divididas e cada membro tem as próprias obrigações, compartilhando a responsabilidade dentro do lar.

Valdinha tem mais de sessenta anos, é aposentada, mora e trabalha em outro bairro periférico de São Paulo, não longe do bairro de Lucicleide. Possui um pequeno ponto onde nos últimos anos foram desenvolvidos vários tipos de comércio: avicola, oficina de costura, loja de sapatos, chaveiro, venda de enxovais, pano de chão e roupa para “pets”. Com a sua aposentadoria e a renda destes serviços, Valdinha ajudou financeiramente o marido debilitado, os filhos desempregados e os netos a estudarem. Atualmente um dos filhos abriu um pequeno pet shop e banho e tosa em um local ao lado da loja de Valdinha, cuja reforma foi inteiramente custeada por ela.

Francisca é vizinha de Lucicleide e também é comerciante. Abriu a própria mercearia em 2000. Aqui você encontra desde as bebidas até os chinelos e o rodo de chão. Todos os meses Francisca paga as próprias contas, faz pequenos investimentos na lojinha, manda dinheiro para a mãe e para filha, ajuda pessoas carentes com gêneros alimentícios. Francisca passou por vários problemas de saúde e por uma cirurgia. Atualmente está saindo de um relacionamento abusivo e controlador com o próprio marido após quase 20 anos.

Empoderamento

Lucicleide, Valdinha e Francisca, além do gênero e da localidade geográfica, tem um outro aspecto em comum: elas estão se empoderando. De acordo com o 5° Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, a igualdade de gênero transcende a dimensão da cidadania e do direito à vida, envolvendo também as questões econômicas e o protagonismo feminino em todas as suas facetas: independência financeira, reconhecimento do trabalho doméstico não remunerado e promoção da responsabilidade compartilhada da família, direitos iguais e acesso aos recursos econômicos e à propriedade*. A igualdade de gênero não é apenas um direito humano básico, mas a sua concretização tem enormes implicações socioeconômicas. Empoderar as mulheres impulsiona economias a se tornarem mais prósperas, estimulando a produtividade e o crescimento: a cada dólar investido em programas de geração de renda para mulheres, estima-se um retorno de 7 dólares.

Além da igualdade formal

A busca por equivalência social entre homens e mulheres, ou seja, mesmos direitos, deveres, privilégios e oportunidades de desenvolvimento não significa, porém que homens e mulheres devem ser sempre tratados como iguais ou terem o mesmo comportamento. Pelo contrário. Como princípio, a igualdade só pode ser mesmo alcançada se olharmos com atenção e respeito para as características e necessidades de cada um, reconhecendo e respeitando as diferenças.

A mera comparação homem-mulher quanto as capacidades intelectivas, manuais e em geral funcionais, deixaria uma conversa sobre a questão de gênero estéril, pois focaria apenas nos limites de cada um. Neste debate, preferimos ressaltar a riqueza do gênero feminino e colocar uma perspectiva diferente, que passe da dimensão do “fazer” para aquela do “ser”, com as palavras do Papa Francisco. “A mulher é poesia, é beleza. Somente ela traz aquela harmonia que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que deixa o mundo uma coisa bonita. O escopo da mulher é criar a harmonia e sem ela não existe harmonia no mundo”.

Silvia Caironi

*Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são uma agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015 composta por 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030.

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